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A ostentação

(Sociedade, 16 de dezembro de 1860 – Médium: Srta. Huet)


Numa bela tarde de primavera, um homem rico e generoso estava sentado em seu salão; sorvia, feliz, o perfume das flores de seu jardim. Enumerava, complacente, todas as boas obras que tinha praticado durante o ano. A essa lembrança não pôde deixar de lançar um olhar quase desprezível sobre a casa de um de seus vizinhos, que não pudera dar senão módica moeda para a construção da igreja paroquial. “De minha parte”, disse ele, “dei mais de mil escudos para essa obra pia; deitei negligentemente uma cédula de 500 francos na bolsa que me estendia aquela jovem duquesa, em favor dos pobres; dei muito para as festas de beneficência, para toda sorte de loterias, e creio que Deus me será grato por tanto bem que fiz. Ah! ia esquecendo uma pequena esmola que dei há pouco tempo a uma infeliz viúva, responsável por numerosa família e que ainda cria um órfão. Mas o que lhe dei é tão pouco que, por certo, não será por isso que o céu se me abrirá.”

“Tu te enganas”, respondeu de repente uma voz que lhe fez voltar a cabeça, “é a única que Deus aceita, e eis a prova.” No mesmo instante uma mão apagou o papel em que ele havia escrito todas as suas boas obras, deixando apenas a última; ela o levou ao Céu.

Não é, pois, a esmola dada com ostentação que é a melhor, mas a que é dada com toda a humildade do coração.


Joinville, Amy de Loys



Allan Kardec – Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. N.4 ; Ano 3,1860. FEB Editora.

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