Sim, com certeza, sem problema. O mais importante não é o rótulo da religião, não é sermos espíritas, católicos, budistas, protestantes, mas sim vivenciarmos a lei de amor e de caridade, é sermos verdadeiramente cristãos no sentido amplo da palavra, no sentido de colocar em prática o Evangelho que o Divino Mestre ensinou.
Quando se chega ao plano espiritual, tenhamos a certeza que não será perguntado a cada um de nós qual a religião que professávamos, mas será verificado de que modo conduzimos nossa vida quando encarnados, se soubemos vivenciar o amor, a caridade e a fraternidade ou se fomos orgulhosos, egoístas, maledicentes e se vivemos apenas para a satisfação de nossos próprios interesses.
Sabemos existir pessoas que não frequentam uma religião específica, mas são pessoas extremamente bondosas e que exalam amor, que não perdem a oportunidade de fazer o bem nos mais simples e menores gestos. Esta pessoa, seguramente, é muito bem vista aos olhos de Deus porque aplica a Sua Lei. Por outro lado, têm muitos espíritas, católicos, protestantes, evangélicos, entre outros, que vivem nos seus templos ou casas religiosas, locais que, em tese, aproximam o homem de Deus, mas que na prática não fazem aquilo que professam.
No plano espiritual, inclusive, através das observações trazidas por Manoel Philomeno de Miranda, na obra Transição Planetária[1], tem-se a comprovação de que o mais importante é o amor e não o rótulo das religiões. Lá, a caravana do plano espiritual destacada para auxiliar os corações desencarnados no tsunami da Indonésia, em 2004, é formada por religiosos das mais diferentes convicções.
Menciona o autor espiritual, na apresentação dos trabalhadores da caravana, que estava curioso por conta da magnitude do labor desenhado e, especialmente, em razão da convivência que teriam com Espíritos de culturas diferentes e hábitos com os quais não se encontrava familiarizado. Informa que os amigos filipinos logo se identificaram, sendo que o mais idoso havia sido um sacerdote católico numa das muitas ilhas e que se chamava Marcos, tendo se dedicado ao ministério da fé religiosa e à educação infantil, desencarnando nos idos do ano de 1954, aos setenta anos de idade.
O outro, mais jovem e sorridente, encontrava-se vestido conforme o seu povo, elucidando que pertencia à religião muçulmana e era conhecido como Abdul Severin, tendo desencarnado vitimado por febre palustre aos 40 anos de idade. Destaca que a caravana era constituída de membros de variada formação espiritual, mas que possuíam como ponto comum de entendimento o amor que vige soberano no Universo, sendo uma das forças de equilíbrio cósmico, de essência divina.
O autor espiritual, no ensejo, informa que seu amigo Oscar tinha formação judaica e ele Espírita, percebendo todos, de maneira comovedora, pertencerem a mesma grei, a do bem incorruptível, inalterável.
Inclusive, o autor espiritual Miranda pergunta ao padre Marcos como ele conciliava o conceito de reencarnação com os dogmas esposados pela sua formação católica, tendo o amigo respondido que as formulações da Verdade partem do mundo real, espiritual, na direção da Terra, sendo as religiões que as vestem de superstições, de lendas e dogmas, segundo os níveis de consciência das criaturas, velando umas e liberando outras. Contudo, ressalta, que ao retornar o indivíduo ao país da imortalidade, as fórmulas somem, dando lugar ao aparecimento da essência que logo são assimiladas por afinidade e pela lógica do Bem universal.
Desta feita, como esclarecido na pergunta anterior, o Espiritismo não tem discriminação ou preconceito contra religião alguma. A religião não importa, não é a Doutrina Espírita que salva, mas a vivência das leis de Deus, da Lei de Justiça, Amor e Caridade. Todas as crenças que aproximam o homem de Deus são belas e merecem o nosso respeito e admiração. Tanto é assim que o Evangelho Segundo o Espiritismo diz “fora da caridade não há salvação” e não “fora do Espiritismo não há salvação”.
[1] FRANCO, Divaldo Pereira. Transição Planetária. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. [s.l.]: Luz Espírita, 2011. p. 24.