
Não, pois o que caracteriza a prática espírita é exatamente a sua simplicidade, sem necessidade de qualquer culto exterior, buscando vivenciar o princípio cristão de que Deus existe em nós através do espírito e da verdade, refletidos em nossa conduta de vida. O Espiritismo, portanto, não tem sacerdotes, não adota e nem usa em suas reuniões e práticas paramentos ou quaisquer vestes especiais; vinho ou qualquer outra bebida alcoólica; incenso, fumo ou outras substâncias que produzam fumaça; altares, imagens, velas ou outros objetos materiais que auxiliem no chamamento do público.
Também não tem hinos ou cantos em línguas mortas ou exóticas; danças, procissões ou atos semelhantes; atendimento a qualquer interesse material ou mundano; pagamento pelas atividades exercidas em favor do próximo; talismãs, amuletos, orações miraculosas, bentinhos ou escapulários; não administra sacramentos, não concede indulgências, não distribui títulos nobiliárquicos; não confecciona horóscopo e nem exerce a cartomancia e quiromancia; não tem rituais e nem faz promessas e despachos.
Examinando a Codificação Kardequiana, não encontraremos referências a qualquer tipo de cerimônia ou ritual, como casamentos, batizados, entre outros.
Os rituais são desaconselhados pelo Espírito Emmanuel, no livro Conduta Espírita, psicografia de Waldo Vieira, ao abordar a postura do Dirigente das reuniões mediúnicas. Afirma o autor espiritual que se deve desaprovar o emprego de rituais, imagens ou símbolos de qualquer natureza nas sessões mediúnicas, de modo a assegurar a prática do Espiritismo na sua forma pura e simples, destacando que mais vale um sentimento puro que centenas de manifestações exteriores.[1]

Como somos filhos diretos de Deus, não se justifica precisarmos de intermediário para esse contato com Ele, podemos fazê-lo diretamente, pelo pensamento e pelo coração. Os centros espíritas ou sociedades verdadeiramente espíritas, seguidores dos postulados da Doutrina Espírita, observam estas orientações.
O casamento, por exemplo, existe no Espiritismo enquanto Instituição, mas não como rito, é dizer, não existe cerimônia religiosa de Casamento no Espiritismo, mas nas obras básicas da Codificação, a Espiritualidade Superior confirma a importância do casamento, afirmando ser ela um progresso na marcha da Humanidade. [2] Comentando esta pergunta, o Espírito Miramez [3] reafirma a importância do casamento como instituição e ensina ser uma lei natural para todos os seres, em todos os planos da vida e que, mesmo nos planos espirituais mais próximos à Terra, os Espíritos também se unem para atividades sagradas do aperfeiçoamento.
Destaca ter o casamento surgido para conservar a espécie dentro de certas normas, assegurando caminhos novos ao amor dos que juntos convivem, e permitindo a constituição da família, que é a célula da sociedade. Lembra, ainda, que enquanto o homem não alcançar a perfeição dos seus sentimentos, precisa ligar-se a outrem pela lei humana, em respeito à lei de Deus, de modo que o amor divino eleve seus sentimentos. Para o que desejam aprender, portanto, o casamento é o meio de se educar.
Portanto, claro está ser o casamento importante para o crescimento e aprimoramento do Espírito imortal, mas tão somente não há necessidade de rito, pois Deus abençoa e auxilia todos os casamentos, com ou sem cerimônia. O importante para a aprovação divina de uma união não é o ato exterior, mas a conduta íntima, com o amor e o respeito ao parceiro, fidelidade e cumprimento dos deveres de uma relação saudável e baseada no amor.

Usualmente, como o casamento no civil é seguido de uma comemoração, alguns casais espíritas aproveitam o momento para realizar uma oração, às vezes feita por um diretor de centro, orador espírita, médium etc., objetivando selar esse importante momento. Contudo, no caso, houve tão somente o casamento civil e não uma cerimônia espírita.
Assim como o casamento, o sacramento do batismo não existe no Espiritismo, não possuindo significado especial ao espírita. Cairbar Schutel orienta que o batismo do Espírito Santo e com Fogo deve ser ensinado aos nossos filhos sob a forma de evangelização, no qual será efetivamente praticado por estes ao atingirem idade suficiente para compreender verdadeiramente os ensinamentos crísticos.[4]
O autor ainda elucida que a palavra batismo tem sua origem no grego, e significa mergulho, ou mergulhar. Por este prisma, afirma que a prática do batismo representa um mergulho no Espírito Santo. Lembra que Jesus jamais batizou alguém, mas apenas seguiu uma tradição comumente aplicada na época. [5] Jesus nunca se referiu ao batismo e sim ao renascimento da água e do espírito, isto é, à reencarnação e à mudança de pensamentos e sentimentos, necessários para a transformação do homem, até porque os cultos exteriores não são os agentes capazes de modificar a criatura e a elevar até Deus, mas tão somente a mudança interior, brilhantemente exemplificada por Jesus.
Deste modo, o Espiritismo dispensa a criação de rituais ou práticas exteriores. Em verdade, somente a proximidade com os bons Espíritos constitui ferramenta indispensável para sua compreensão, pois o espírita, conforme ensina Kardec, deve ser reconhecido por sua “transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”.[6]
[1] VIEIRA, Waldo. Conduta Espirita. Pelo espírito André Luiz. 21. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. p. 11.
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 2013. Questão 6955.
[3] O LIVRO dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez. Disponível em: <https://bit.ly/2wte2k3>. Acesso em: 14 jun. 2018.
[4] Espiritismo.net. Práticas espíritas. Disponível em: <https://bit.ly/2ogxRHD>. Acesso em: 14 jun. 2018.
[5] João 4:1.
[6] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 131 ed. Brasília: FEB, 2013. p. 235.