Se nos afigura que uma imensa vaga de erotismo e depravação sexual assalta a sociedade terrestre, impondo um tempo de inquietação e calamidade moral sem igual na história. Alguns afirmam que o atual quadro repete quase os mesmos 8 da sociedade romana ao tempo de Domício Nero ou Calígula, onde a corte se permitia os bacanais e as orgias tristemente celebrizadas.
Após séculos vários de intolerância religiosa ao tema delicado, onde o sacerdócio remunerado optou pelo combate e a crítica, olvidando o esclarecimento e a educação devida das manifestações sexuais da criatura humana, o prisioneiro rompeu as grades da hipocrisia e do cinismo para tomar conta das ruas e dos bares, invadir o cinema e dividir o palco dos teatros, sem esquecer da inoculação nas famílias, esgarçando uma mentalidade que até então se conservava repressora e puritana em matéria de comportamento sexual.
Paredes ruíram.
Portas e janelas da moral e da ética foram arrancadas com inaudita violência. O desbordo das paixões saiu dos porões da inconsciência para a convivência social, impactando a todos pela velocidade com que quebrou padrões de conduta longamente nutridos.
E de meio século para cá ele abandonou a região genital e foi abrigar-se nas consciências, alterando completamente a marcha da humanidade.
Vive-se o auge da sexolatria.
Em quase tudo, particularmente TV e redes sociais, o tema está como pano de fundo de propagandas bem elaboradas e chamamentos de apelos eróticos bem urdidos. Corpos apolíneos de homens e mulheres são expostos numa vitrine virtual que está acessível a todos. Tabus foram reduzidos a pó.
Barreiras impostas pela fé dogmática e caolha caíram por terra. A família tradicional ganhou novos arranjos, vínculos antes inimagináveis agora são realidade no cotidiano e condutas antes reprimidas pelo Estado ou fortemente espancadas pelo clero conservador estão na crista da onda, surfando num oceano de liberdades quase que plenas.
A dinâmica social, a mudança de paradigmas, o empoderamento feminino de um século para cá e outros vários fatores produziram uma revolução nos costumes jamais vista nos anais da história.
O que é imoral?
O que é certo ou errado nas faixas do comportamento sexual?
Pode-se fazer tudo que se desejar nesse terreno tão delicado?
O aborto, proibido em alguns países e pela legislação vigente tido como crime, é perfeitamente lícito em outras nações, não existindo qualquer entrave legal à sua realização.
Os verbetes normal e anormal sinalizam como cada um enxerga a vida, dentro do seu nível de evolução e compreensão da existência. O amor possui infinitos campos de manifestação e o Espírito, que é imortal, transita por inúmeras faixas de experimentações evolutivas, incluídas aí as de natureza sexual.
Estarão em erro os que optaram pela conduta sexual em desacordo com o predomínio heterossexual?
A formação da família fora dos padrões tradicionais homem/mulher fere algum dispositivo divino, impondo aos seus protagonistas uma condenação por parte da Divindade?
Quem foi que recebeu de Deus procuração para lhe representar os interesses na Terra?
Hoje, um pouco mais libertos da tirania dogmática e religiosa que asfixiou a sociedade por muitos séculos, as ciências que analisam o ser humano progrediram muito, devassando campos antes inabordáveis. Psicologia, psiquiatria, medicina, filosofia e outras vem esquadrinhando esse fascinante viajante das estrelas, buscando entender o que estamos fazendo no mundo. Quais são nossas buscas existenciais e identificação de nossas carências e traumas, ofertando ajuda para tantos mal-amados e mal amantes.
Com a paulatina descoberta e aceitação de nossa imortalidade, sabemos hoje que nosso trânsito pelos caudalosos rios da evolução não começou ontem, mas em eras priscas, impossíveis de datação. E nesse caminhar incessante, temos ânsia de amar e sermos amados, descobrir quem realmente somos e qual a razão de estarmos aqui.
O sexo é departamento da vida biológica, sob regência da consciência, instância pensante do Espírito imortal.
Impulsos nascem de necessidades, desejos brotam das carências afetivas e os códigos de conduta vão sendo revistos à medida que a sociedade progride moral e intelectualmente.
Temos o dever de compreender tudo, não necessariamente concordar com tudo. Acolher e conviver pacificamente com as pessoas que tenham hábitos e escolhas diferentes das nossas, sem que precisemos aplaudir seus anseios, distintos dos nossos.
Somente nas trilhas suaves da compreensão mútua, da fraternidade legítima e do respeito recíproco conseguiremos fundar uma sociedade justa, equilibrada e harmônica, onde cada um tem direito ao seu espaço próprio, respeitando o espaço alheio na medida em que deseja que os seus valores sejam tolerados.
Sob essa diretriz proposta por Jesus e referendada por todas as religiões, singraremos o mar agitado das diferenças aparentes, nos fazendo encontrar um campo comum para que a convivência seja rica de tolerância e amor, compreensão e bondade.
Sem isso, poderemos até nos ufanar das imensas e fascinantes conquistas tecnológicas, mas ainda estaremos sobrenadando o oceano sombrio de nossas torpezas morais.
Até quando, ninguém sabe.
Marta
Salvador, 01.07.2022
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