O extraordinário desenvolvimento das ciências, da tecnologia e do comércio, de um modo geral, impôs a quase todos os profissionais uma exigente e permanente atualização de métodos e técnicas nas áreas específicas de cada um. Não basta, nos tempos modernos, ter uma simples graduação nesse ou naquele setor de conhecimento. O mercado exige mão de obra qualificada, cobrando além do diploma a especialização, a pós, o mestrado e o doutorado.
Inúmeros profissionais permanecem na área acadêmica por muitos anos, dilatando o entendimento em aspectos específicos de suas cátedras. E essas graduações favorecem um diferencial de ganhos que inflacionou alguns ofícios, onde profissionais de alta qualificação são disputados por empresas e multinacionais extremamente exigentes.
Inegável constatar que o conhecimento, seja ele específico ou geral, auxilia enormemente o ser a compreender melhor a sociedade onde está inserido, fornecendo melhores ferramentas para que os labores sejam executados com eficiência e qualidade impecável, quase um padrão na atualidade.
Os melhores estipêndios argentários são destinados àqueles que exibem as mais dilatadas conquistas no campo universitário, apresentando densidade e estofo cultural e técnico além do habitual.
Ocorre constatar que nem sempre a esse universo de exigentes requisitos intelectuais corresponda uma harmonia moral, uma serenidade emocional e uma visão mais profunda da vida.
Mestres e doutores, em vários campos de atuação, se mostram profundamente divorciados de uma sensibilidade que lhes permita observar a simplicidade da existência. Se fazem arrogantes e presunçosos, esmagando pessoas humildes que lhe caem no círculo de atuação. Zombam dos analfabetos, escarnecem dos que cometem deslizes do verbo e ridicularizam os que não conquistaram os cobiçados lauréis acadêmicos.
O cérebro lhes jaz dilatado de soberba e orgulho, enquanto o coração se mostra insensível e atrofiado para a música da beleza e para a sinfonia da simplicidade.
Aquele que ama está sempre um passo à frente daquele que simplesmente sabe.
Se o saber, em muitas circunstâncias, é capaz, sozinho de elucidar enigmas e decifrar códigos complicados, somente o amor tem luz suficiente para desalgemar os seres das trevas morais, fornecendo asas para o voo da legítima liberdade dos grilhões da pequenez moral.
Se é importante saber, mais importante é sentir. Ambos, coração e cérebro, reclamam uma ponte segura que lhes faculte intercâmbio incessante, onde um nutra o outro com os valores que lhe são próprios. Em meio a uma sociedade que alcançou as estrelas e não para de nos surpreender a cada dia, temos o noticiário chocante de toda hora, onde a degradação dos costumes e o apodrecimento da conduta muitas vezes eclode de pessoas portadoras de casca brilhante e miolo enfermiço.
Se muito ostentam, pouco possuem. Dominam a muitos, incapazes do auto domínio. Ditam regras a terceiros, que não seguem, esfarelando flores para evidenciar os espinhos, espinhos que são numa estufa de muitas letras e escassa tolerância para com o próximo.
O maior homem do mundo surgiu num berço improvisado, aculturou-se numa modesta marcenaria e adulto, foi buscar 12 amigos para falar coisas do coração.
Convivendo entre analfabetos e homens de índole rude, extraiu de cada um o que cada um exibia de melhor. A amizade sincera, a fidelidade ao dever, a honra da palavra empenhada fizeram daquele punhado de amigos uma organização informal que mudou o curso da história.
A sala de aula era o mundo.
Todo mundo aprendendo, Mestre, só Ele.
Cada dia trazia suas lições e os professores eram os outros.
Perseguição era tratada como enfermidade da alma, orgulho era e permanece sendo atrofia do ego, avareza é distorção da pupila, sedenta de cobiça e egoísmo é imaturidade do ser que se fez adulto no corpo, permanecendo pigmeu no comportamento.
Certamente que nenhum impedimento deve te obstar de buscar as graduações que te favoreçam melhores salários e condições de trabalho, mas nunca te esqueças das origens humildes de onde procedes.
E por mais que o mundo te aplauda o raciocínio brilhante e te ovacione nos tapetes vermelhos da fama passageira, sorri, gentil para o menino sujo que te engraxa o sapato na esquina e observa o homem que a miséria reduziu quase a um zumbi, buscando em lixeiras públicas material reciclável para vender.
Não, eles, positivamente não sabem metade do que conheces! Nunca abriram nem folhearam Camões, Kant, Spinoza. Desconhecem completamente o que seja a teoria da relatividade, ignoram o próprio DNA e sequer imaginam qual lhes sejam o tipo sanguíneo. Mas te tratam com respeito, prestam de boa vontade esse ou aquele pequeno favor e logo em seguida somem nas vielas do mundo.
Quase todos possuem uma retaguarda de dor e miséria, abandono e insegurança.
Não tiveram teu berço de ouro. Não fazem parte das estatísticas dos afortunados, nem nunca tiveram os nomes aprovados em listas de graduações.
Se possível ao teu cérebro, carregado de muitas letras e fórmulas, sê gentil e humano com eles.
Jesus não veio para sábios e doutores. Estes, já sabem demais. Ele veio comungar com simples e oprimidos, renegados e aflitos, apontando a cada um os trilhos da eterna ressurreição.
Marta
Salvador, 01.09.2022