Não existe pessoa alguma que se possa eximir das ocorrências difíceis da vida terrestre.
Desde que pisa ao solo do planeta de provas e expiações, a cada passo experimenta os desafios próprios da condição humana e carpe sua cota de dores nas trilhas do mundo.
A miséria que enlouquece.
A enfermidade que inquieta.
O abandono e a solidão que sufocam.
A ingratidão que magoa.
E quando a vida parece refrigerar as provações amargas, diminuindo as incertezas e dilatando horizontes de possibilidades, novas inquietações surgem de inopino, abrindo crateras de medo e sofrimento na estrada de muitos.
Apavorados, muitos fogem para as religiões, numa tentativa desesperada de abrir o canal de comunicação com Deus, suplicando o desvio da taça do intragável vinho.
Outros, não encontrando saída, atiram-se ao suicídio covarde, buscando o desligamento da dor que os devora, intérmina.
Mais alguns se entregam às dissipações, tentando anestesiar uma consciência.
Raros buscam equacionar o porquê das dores, refletindo sobre sua pedagogia educativa da alma em lapidação.
Estas são sempre a visita indesejável e inoportuna, causando desconforto e aflição.
Seja como for, em marcha vagarosa pelos caminhos insondáveis da evolução, vamos compreendendo que o sofrimento é processo educativo, a justiça divina é exata e justa e Deus jamais comete arbitrariedades com Seus filhos.
As múltiplas existências se encadeiam, ofertando a cada um o resultado de suas ações.
Em meio ao caos, o refrigério sempre surge por acréscimo de bondade da Misericórdia Excelsa.
A doença é extinta pelo remédio.
A solidão encontra um amigo.
A madrugada se diluiu ao sol de um novo dia.
Um afeto inesperado surge, diminuindo a aridez da indiferença.
O prato de sopa suprime a fome.
Pessoa alguma caminha sem amparo na retaguarda, onde no anonimato muitos corações e afetos da longa estrada se postam em auxílio e amparo para que o aprendiz não desista das lições. Inspiram ideais.
Sustentam as quedas prováveis.
Secam lágrimas nas horas difíceis.
Renovam a esperança nos momentos do sono, onde as almas cativas do corpo se desdobram do fardo material e reencontram os já libertos pelos "habeas corpus" lavrados pela morte.
Laços de amor se consolidam.
Amigos apertam vínculos de amizade.
Parentes se fortalecem no amparo mútuo.
Em te percebendo sob o látego da amargura, os ferretes das aflições e como algemas do abandono, recorda Jesus.
Transitou no mundo sem família direta, elegendo os amigos e discípulos como Seus irmãos de ideal.
Serviu sem esperar paga.
Compreendeu sem recíproca.
Consolou a famosos de aflitos e desenganados pelo mundo.
E quando mais precisou de auxílio, ante o julgamento arbitrário e a condenação injusta, apenas na súplica de um ladrão encontrou alguma réstia de solidariedade.
Nada devia às leis.
Conduta imaculada.
Nobreza espiritual sem qualquer comparação com a nossa inferioridade.
E mesmo assim não se furtou aos testemunhos que os homens lhe impuseram.
Mesmo chorando, avança!
Desamparado, ampara alguém em pior situação.
Envolto em sutil trama das sombras, ora e acende tua luz íntima, aguardando o veredicto da vida.
Ninguém fugirá do acerto de contas com a contabilidade divina.
E ante a proximidade do Natal, que é Seu renascimento entre os homens e mulheres que não O esqueceram, renova ao lado do berço improvisado teus propósitos de fidelidade e paciência, trabalho e dedicação à construção do Reino de Deus, a começar de teu próprio exemplo e conduta na escola do mundo.
Marta
Salvador, 02.12.2021
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