Ao longo de uma existência, quantos desafios e experiências marcantes viverá um homem, uma mulher?
Sonhos acalentados e não materializados. Pesadelos dos quais se buscava fuga vieram ao campo da vida e se fizeram demorados quistos de aflições.
Apostas em projetos que fracassaram. Insucessos não previstos que se materializaram diante dos olhos, como fantasmas que não conseguimos exorcizar.
E não obstante esforços e lutas, conquistas e estagnações, de alguma forma avançamos.
A queda não nos impediu a marcha. A ausência de recursos não abortou os sonhos. As amizades verdadeiras e ricas de conteúdo se mantiveram sólidas.
A fé, em algum momento, cambaleou, qual chama débil de uma vela, exposta a furiosa ventania, mas resistiu e não nos deixou em plena escuridão do caminho.
Nas horas de sucumbência, onde tudo parecia sinalizar o fim, surgiu novo recomeço.
Quando a vida e as circunstâncias pareceram tirar as escoras onde nos sustentávamos, o Senhor nos ofertou uma cadeira de rodas ou um ombro amigo e conseguimos sair do deserto escaldante.
Madrugadas em pranto foram vencidas por manhãs ricas de sol.
A apatia bateu em retirada assim que a esperança dobrou a esquina, vindo em nossa direção.
Um livro nos alentou o intelecto anestesiado. Uma poesia nos abriu um sorriso no rosto crispado de desesperança.
Uma criança veio ao lar e fez das horas um renovar incessante de otimismo. Um animal de rua ou adquirido passou a preencher nossa chegada com um rabo abanando, sinalizando a alegria de cada reencontro.
Tens agora novas certezas.
Surgiram outros corações afetuosos em teus dias cinzentos.
Alguém se te associou ao afeto e o amor fez vibrar as cordas de teu violão emocional, que estava até então mudo.
E em surgindo o prelúdio do Natal, tudo parece engalanar-se de diferente atmosfera.
Luzes em quase todas as ruas. Guirlandas natalinas nas portas. Música nostálgica, evocando família e a chegada D'Ele.
Deixa-te tocar pela mensagem oculta, não vista, desse período de aniversário do Infante Sublime. Ainda primavera, flores O saúdam em deslumbrantes cores. Há convites à pacificação da criatura humana, com suas guerras intestinas e com seus conflitos externos.
Ventos brandos empurram teu barco para o porto seguro da paz.
De onde não imaginas, surgem alvíssaras de renovação e aprimoramento, trabalho e mudanças, alegria e fé.
Certamente que em muitas vidas o clima cinzento insiste em perdurar. O riso se fez pranto. A voz morreu na garganta, sufocada pelo aluvião de lágrimas. O peregrino perdeu o rumo e a direção.
Aí podes ser a diferença.
Se acreditas realmente na mensagem do Natal, começa o dia fazendo a alegria de alguém próximo. Coloca uma flor ou um vaso verde em tua mesa de trabalho. Se em tuas horas por viver te surgir uma pessoa em penúria, socorre de alguma maneira e mobiliza outros corações em derredor daquela vida ferida.
Um brinquedo ao menino de rua, que a sociedade tornou invisível.
Uma cesta básica ao abrigo onde a morte espreita velhinhos em ruína orgânica.
Ligeira visita a uma unidade de saúde, onde prisioneiros da hemodiálise aguardam que a máquina lhes purifique o sangue.
Tuas vantagens em relação a todos eles é manifesta, indiscutível.
Afirmam que Natal é a cada doze meses. Rompe essa tradição e faz de cada dia teu no mundo um nascer e renascer D'Ele, dissolvendo a rotina que te ameaça e inoculando vida nova em teus propósitos.
Isto te fará um bem enorme.
E todos ganharemos.
Eu, tu e eles.
Marta
Salvador, 02.12.2022