Primavera de Marta - Mensagem do dia 04.11.2022

A quem se propuser analisar o diversificado mosaico do atual estágio evolutivo da Terra, não faltarão elementos para a percepção de uma complexa teia de interesses contraditórios, ora vigentes nos anseios de bilhões de indivíduos.

Aclimatados a panoramas diversos no campo da política e da economia, da religião e da educação, o ser passa a reagir de acordo com os valores recebidos e sob impulso de seus interesses imediatos.

Numa cultura que vem deteriorando o diálogo presencial, nada a estranhar numa sociedade que prima pela virtualidade.

A manipulação de informações muito bem elaboradas, conquanto falsas na essência, tornou-se ferramenta indispensável para grupos ideológicos se imporem na condução de mentes desacostumadas com a aferição da verdade.

Doutrinas religiosas arcaicas ainda possuem o condão de arrastarem massas de fiéis e crentes, que se lhe atiram nos braços de orientadores eletrônicos, muito bem equipados de argumentação falaciosa para condução do rebanho desavisado.

Uma mídia massificadora surge com o advento da TV, ora em migração acelerada para as mídias sociais, robotizando bilhões de internautas em fascínio pelos quinze segundos de fama.

Celebridades atormentadas se fazem paradigmas de incontáveis biótipos, fragilizados pela ausência de uma consistente educação familiar.

A interação social, ora diminuída pelo distanciamento dos últimos dois anos e pelo rescaldo da pandemia de covid 19, produziu estragos muito grandes nos relacionamentos entre marido e mulher, parentes, amigos, gerando dificuldades no resgate dos laços de afeto anteriormente nutridos.

Sob a ótica de diversas ciências sociais, humanas e biológicas, poderíamos localizar muitos quistos que ora imprimem uma marca de profunda amargura na sociedade terrestre, ainda em costura de seu tecido sensível, dilacerado pela virose destruidora. Mas igualmente, poderemos destacar importantes avanços do homem e da mulher nesse mesmo período, onde muita gente se reinventou.

Descobriu-se a importância da solidariedade. Abismos foram transpostos pela audácia de pessoas dispostas a ajudar pessoas.

A solidão de muitos foi diluída quando se percebeu que a tragédia era e é comum a todos, necessitando da união coletiva para diminuir seus impactos.

O senso ecológico ganhou destaque num planeta que emite sinais alarmantes de desgaste e falência de fontes naturais. A investigação científica caminha a passos de gigante, a medicina surpreende a cada minuto e a qualidade de vida deu um salto quântico nos últimos cem anos, dilatando a longevidade corporal de maneira surpreendente.

A economia se diversificou em muitas áreas, mas o dinheiro gerado ainda não é aplicado, na sua maior parte, na geração de bem-estar e saúde, educação e cidadania. A indústria da guerra sorve grande parte desses recursos vultosos, por persistir no homem um caráter profundamente belicoso, em conluio com suas imperfeições morais, que ele insiste em ignorar.

A disseminação da cultura proporcionou arrancar milhões de pessoas das trevas da ignorância. A alfabetização das massas deu acesso a milhares de jovens e adultos ao mundo das letras e a internet produziu uma revolução tecnológica, cultural e de valores sem precedentes na história da civilização.

Há frutos doces e há frutos amargos.

Nessa imensa árvore sobrevivem galhos fartos de flores, mas acúleos venenosos inspiram cuidado no seu manuseio.

Relações interpessoais fragilizadas por interesses passadiços. Uma sociedade devoradora de insumos, produtora de lixo em quantidades colossais, vítima da imprevidência e do desperdício.

Mas muitas mentes estão trabalhando para reverter esse quadro. Missionários do amor e da cultura já se encontram no corpo, operando em áreas delicadas do tecido social, apontando rotas alternativas.

Falam o que vivem e vivem o que falam.

Resgatam pelo exemplo a simplicidade franciscana.

Usam do mundo o estritamente necessário, partilhando o pão com a massa de famintos.

Ministram fé entre descrentes, sem os acorrentar às suas posições ideológicas.

Desidratam a culpa para despertar em cada um o senso de responsabilidade.

Apontam caminhos, mas não fazem o percurso com pernas alheias.

Ministram o saber, mas não se colocam no lugar do aprendiz quando da época dos testemunhos.

Estão no corpo, mas não são o corpo.

Joviais e otimistas, inoculam bom ânimo e otimismo por onde passam.

Também choram, mas ocultam suas lágrimas para atenderem os desesperados sorrindo.

Não rezam, repetindo chavões e fórmulas teológicas pré-fabricadas. Oram, dialogando de maneira natural com a Divindade, ínsita na intimidade profunda.

Suas religiões são sua conduta.

Enxergam o espinho, mas destacam a exuberância da rosa.

Eles estão ao teu lado.

Caminham contigo na calçada e pegam o metrô e o ônibus que te transporta a cada dia.

Não são anjos. São homens e mulheres cujos corações se deixaram tocar pela mensagem D'Ele.

Nem sempre esposam uma religião, porque optaram pelo cultivo da religiosidade.

Se tombas, eles te levantam.

Se choras, eles te consolam.

Se triunfas, eles se regozijam contigo.

Observa em derredor e os identificará.

Simples como o lírio do campo e suaves como as pombas, são agentes de Deus, trabalhando e suando para uma Terra melhor.

Marta

Salvador, 04.11.2022