
Em meio a uma sociedade que se ufana em exibir inúmeros canais de comunicação, não será nem um pouco difícil localizar os que caminham na solidão. Possuidora de notáveis avanços no combate ao câncer, nada pode fazer a oncologia em favor dos vitimizados pela depressão e pelas carências da alma.
Atingida por uma pandemia que ainda prossegue dizimando vidas em muitos lugares, em tempo recorde desenvolveu imunizantes contra o vírus destruidor, mas observa, impotente, os aniquilados pelas angústias e os abatidos pelo medo em suas expressões de síndrome.
Se no campo físico e no tratamento das enfermidades orgânicas os avanços foram surpreendentes, no terreno da subjetividade ainda há muito por investigar, detectando as sombras teimosas que insistem em abater o ser nas suas possibilidades criativas.
Persistem, e não é de hoje, as largas estatísticas sobre o suicídio, a loucura, os surtos esquizofrênicos, as problemáticas depressivas e outros estados emocionais degradantes, causadores de incontáveis males à sociedade. Não obstante os indiscutíveis avanços da psicologia em suas diversas vertentes, as peças do quebra cabeça do humano ainda não estão devidamente ajustadas no tabuleiro que o possa decifrar integralmente.
Inúmeras variantes, desconhecidas umas e ignoradas outras, prosseguem teimosamente negadas pela cultura acadêmica materialista, que fracionou o ser em departamentos isolados, buscando compreender o ser humano em setores e não num conjunto que se ajusta para superação dos desafios evolutivos.
Prossegue difícil entender que o ser não é nem nunca foi apenas um conjunto de 60 trilhões de células que claudica sobre duas pernas. Temos, além da vestidura orgânica, um ser imortal, senhor de vastas realizações no pretérito e destinado pela vida a prosseguir a marcha em direção a insondáveis conquistas no porvir.
Do ontem, carrega reações no hoje que o inquietam no convívio com o semelhante. Inibições que são no agora reflexos de atitudes impensadas no ontem longínquo ou próximo.
A cada geração a paranormalidade oferta sinais cada vez mais intensos, destravando possibilidades psíquicas nunca experimentadas, atestando que estamos todos mergulhados num oceano de sutis vibrações, onde ondas e raios de natureza psíquica nos atingem de momento a momento, alterando o humor, interferindo nas decisões, abatendo o ânimo ou exaltando a coragem. E tais emanações partem de um mundo vibratório que nos cerca, onde uma população imensa de desalgemados da prisão orgânica se movimentam na invisibilidade corporal.
Nunca morreram. Saíram apenas do veículo físico. Interagem freneticamente com a retaguarda material onde a pouco respiravam. Pensam e sonham igualmente. Desejam expressar sentimentos e emoções, nem sempre encontrando dutos adequados para esse tentame.
Prosseguem vivendo.
E quando suas expressões são elevadas e nobres, o ganho é incontestável. Belas inspirações, pensamentos de harmonia, lampejos de verdade brindam a criatura humana que se lhes imanta na mesma frequência. Mas quando o conúbio se ajusta nas faixas do desequilíbrio, eis o terrorismo espiritual no formato das obsessões cruentas, dos desforços vingativos, das subjugações de difícil diagnóstico e tratamento demorado. Perda das funções criativas e uma sombra parece toldar o clarão do sol em nosso mundo íntimo.
Como devassar uma alma sob tormenta psíquica pelo simples bisturi?
Como ministrar antibióticos a alguém infestado de vírus psíquicos?
Qual antitérmico dará resultados numa febre raivosa por dentro da alma?
Temos urgência de uma medicina holística, que aprecie o ser como um todo, anotando com carinho e afeto os descaminhos da alma que se equivocou ontem e hoje pede ajuda para refazer sua rota. Ao lado da injeção que alivia, do antidepressivo que ameniza a usina mental em descompasso, igualmente necessário o diálogo que promove a catarse, a terapia que localiza e drena o foco das sombras íntimas, permitindo ao ser sua própria renovação, em ascese para a grande libertação.
Enquanto a psicoterapia do Evangelho não for devidamente considerada e aplicada nas casas de saúde, teremos sempre esforços louváveis de médicos e enfermeiros dedicados em favor do resgate da homeostasia abalada, mas quase sempre serão medidas em trânsito para a inutilidade por não atingirem as causas profundas da inarmonia, a se manifestar em diversos matizes da vivência comum.
Se presentemente atravessas algum trecho da estrada em desconforto de natureza que te pareça inabordável pela medicina do mundo, busca sem tardança tua matrícula na enfermaria do silêncio e sorve o xarope da oração, asserenando teus espaços interiores em combustão.
Reflexiona sobre tuas buscas.
Prioriza o essencial.
Liberta-te do apego às coisas.
Educa tuas emoções em tresvario.
Corrige tua ótica sobre pessoas e fatos.
Fiscaliza teu verbo a partir do pensamento, para que o verbete não se volte contra ti.
E se sofreres o ataque dos maus e dos infelizes, bendiz a posição de vítima.
Ontem, fostes o algoz.
Estás evoluindo.
Prossegue entre avanços e quedas, dificuldades e tropeços, sempre fitando o sol de primeira grandeza chamado Jesus.
Em tua madrugada de resgates e dores, Ele se ergue como prenúncio da aurora que te anuncia dia novo, rico de luz e pleno de esperança.
Marta
Salvador, 07.07.2022