Não obstante o volumoso acervo de informações coletadas ao longo dos últimos dois séculos de investigações científicas, muitos estudiosos e adeptos do espiritualismo moderno ainda carregam incertezas cruéis acerca do despertar que acompanha o ser após a morte.
Envolta em crendices e desconhecimento persistente, a desencarnação e o consequentemente retorno do Espírito ao plano espiritual ainda se constituem em tabu e terreno movediço para muitos aprendizes da nova revelação, que vem sendo paulatinamente desvelada pelas ciências investigativas nesse setor.
Possuidor de um forte atavismo que o mantém chumbado ao carro orgânico, desenvolveu o homem uma repulsa natural ao término da existência material, se agarrando, desesperado, ao sistema montado pela teologia tradicional, que acenou débil esperança com um céu estanque e um inferno permanente, onde a virtude de um nunca tivesse pontes disponíveis para socorrer os infelizes, domiciliados nas geenas da agonia sem fim do outro. Desde a Metapsíquica, elaborada pela genialidade de Charles Robert Richet, atravessando a Parapsicologia, de Max Dessoir até as nobres investigações levadas a efeito nos EUA por Joseph Banks Rhine, um acervo apreciável de experiências de laboratório consolidou a certeza da continuidade da vida após a morte, e a possibilidade de que os chamados mortos pudessem continuar existindo em uma outra faixa de vibração, distinta daqueles ainda vestidos de carne.
Modernamente respondendo no campo da Psicobiofísica, muitos cientistas tiveram a audácia de abandonar suas convicções materialistas para proclamarem ao mundo acadêmico suas crenças na continuidade da vida após a dissolução dos tecidos orgânicos pela desencarnação.
E o aturdimento, como é inevitável, passou a constranger materialistas e descrentes de ocasião, os isolando no silêncio ou lhes retirando o pedestal de autoridade num campo onde as incertezas predominavam, até serem diluídas por insuspeitas pesquisas de natureza científica.
E o despertar do ser, removido do mundo físico pelo impositivo da morte, estará naturalmente adstrito ao seu grau de esclarecimento e evolução, demandando tempo para se firmar no novo plano onde acorda para a realidade da vida transcendente.
Uma existência nobre e digna propicia uma adaptação suave e prazerosa no mundo espiritual.
Uma vida assinalada pelos erros deliberados e crimes ocultos impõe a visita da inquietação e do medo, onde a constatação de se ver desnudado produz agonia e aflição de difícil descrição.
Avulta-se daí a urgente necessidade do cultivo das virtudes curativas da alma, quais sejam a gentileza, a caridade e a fraternidade, com o exercício do perdão aos equivocados que tentam nos atingir. O não guardar mágoas e ressentimentos responde por uma travessia serena, facultando um período de repouso ao Espírito de suas fadigas terrestres, proporcionando um acordar tranquilo na realidade nova.
A mensagem cristã, hoje abordada por diversos ramos da psicologia, da psicanálise e da psiquiatria tem concluído que uma vida sem traumas é aquela em que o ser buscou uma convivência pacífica, esquivando-se aos atritos desnecessários e estéreis e enfrentando com altivez e coragem as incógnitas do destino, superando o rancor e a agressividade, buscando preencher o vazio existencial com propostas otimistas e dignificadoras da existência humana.
E, nutrindo a certeza de que o término da vida orgânica é simples convite da vida para o regresso ao grande lar, de passo em passo constrói o viajante da evolução seu passaporte de certezas e confiança quando lhe chegue o momento de abandonar a vestimenta orgânica em ruínas, demandando o país da luz em paz.
Se te vejas nessa situação, cultiva intimamente os lastros de tua irrestrita confiança em Deus. Se te responsabilizas pelo regresso de algum ente querido, adota a serenidade e o otimismo face à inevitabilidade da partida, infundindo no moribundo a certeza de que a vida continua.
Jesus veio a todos assegurar vida, e vida em abundância, e morto pela intolerância de seu tempo, ressurgiu ao terceiro dia, nos ofertando a certeza inquebrantável de que berço e túmulo são apenas pontos de entrada e saída da matéria.
Tanto para eles, quanto para nós, a vida continua, estuante e bela.
Marta
Salvador, 08.11.2021
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