Periodicamente nos vemos dialogando com pais e educadores sobre as experiências terrestres quando, na posição de genitores, estes formaram famílias no campo físico, e ora se avaliam como fracassados na educação dos filhos que lhes foram confiados pela Divindade.
Após mergulharem na impetuosa corrente das forças materiais, se viram cedo vinculados pela progenitura e, não obstante os esforços empregados na manutenção do lar, se viram apunhalados pelos próprios filhos, acolhendo ingratidão ou os assistindo adentrarem os terrenos pantanosos do crime ou da drogadição.
Teriam falhado esses pais na condução das almas que acolheram como descendentes? Porque ao enorme esforço da garantia do pão e da educação austera, receberam o fel da revolta de filhos ingratos e insubmissos?
Agora domiciliados na vida invisível, estes pais e mães com frequência buscam grupos de estudos no mais além para troca de experiências, visando futuros tentames mais exitosos quando ressurgir a oportunidade de restabelecer laços da família no mundo das formas grosseiras.
Eles começam constatando que cada época tem seu próprio valor, detendo especificidades que variam de cultura para cultura. Na condução da prole, muitos se valeram da psicologia da agressão, das surras desproporcionais, do prêmio e do castigo como método educativo, não raro, traumatizando mais ainda os filhos.
Ignorando a pedagogia do afeto e o diálogo educativo, se deixaram levar por eclipses da emoção e, no ardor das grandes paixões, sucumbiram ao talante do uso da força, se fazendo temidos dentro da constelação familiar, arrebentando a confiança e instalando o medo e a revolta em filhos encurralados pela miséria e pela agressividade.
Outros situam no descaso e na indiferença os resultados infelizes colhidos no jardim do lar quando, por falta de zelo e acompanhamento dos caracteres dos filhos, estes fizeram a caminhada por estradas duvidosas e caminhos equivocados, adentrando-se nas trilhas da perversão e dos delitos morais.
A maioria esmagadora desses pais ignoravam que os filhos eram Espíritos imortais, ressurgindo do passado distante para reajustes na consanguinidade e traziam viciações e tendências perturbadoras inoculadas outrora por estes mesmos seres que ora se faziam passar pelo papel de pais e mães.
Velhos adversários de disputas inglórias volviam juntos no mesmo cenário, para resgate de dívidas no campo dos relacionamentos interpessoais tóxicos.
Amantes que se permitiram navegar nas águas turvas de paixões arrebatadoras ressurgiram na família em forma de complexos de difícil interpretação para a época, e as religiões puritanas e dogmáticas esposadas não ofertavam campo a uma interpretação mais dilatada e lúcida dos desafios da família.
O que fazer pelos filhos que se transviaram na conduta?
Como resgatar os afetos do coração do charco da criminalidade e dos vícios do mundo?
Somente agora, despojados do manto protetor da matéria, estes pais compreendiam, cada um no seu limite de consciência, que só Deus pode ter filhos, os confiando aos pais terrestres como sagrados depósitos de que prestarão contas mais tarde. Entendiam, agora, que no transcurso de milênios sem fim, os papéis se invertiam na teia da consanguinidade, fazendo com que pais inconscientes retornassem na condição de filhos dos filhos, sob a bênção educativa da reencarnação, a fim de aprenderem quanto custa relegar ao abandono a educação dos seres que estiveram sob seus cuidados.
Entendiam tardiamente que nenhum esforço de genitores abnegados se perde na pauta da correção de rumos dos filhos, mas que qualquer gleba deixada ao abandono vê frutificar no solo fértil a erva daninha e o espinheiro inútil.
Quase todos reconheciam que o desconhecimento dos laços espirituais preexistentes ao berço não eram obra do acaso, e sim frutos de uma jornada evolutiva que se perde na noite dos milênios sem fim.
E compreendiam que quando o amor se faz investimento consorciado com a educação, deste matrimônio nascem os melhores frutos, mesmo que não sejam vistos de imediato na ribalta dos descendentes.
É possível que te enquadres na mesma história, que teu enredo seja parecido com o de outros genitores abnegados e que te julgues um fracassado na condução da família que foi confiada no mundo.
Despoja-te da culpa, esse entulho teológico de consequências nocivas para as almas sensíveis e assume, de maneira madura e responsável, teus atos e omissões na canalização de valores de que dispunhas e não ofertaste. E que o pranto de arrependimento ajuda a limpar os olhos que se recusavam a ver a verdade, mas a lamentação contínua e improdutiva em nada ajuda a corrigir os desvios surgidos na estrada do permanente aperfeiçoamento intelecto-moral.
Ressurge de tuas cinzas, reflete sobre as lições do pretérito e corrige a ótica para teu amanhã, em sabendo que somos todos filhos de Deus, rumando com o Pai para a unificação na família universal.
Erros e acertos são etapas do aprendizado.
A cada queda, ter a coragem de erguer-se novamente e continuar caminhando.
E onde não possas voltar para refazer enganos e equívocos, entregar os filhos do corpo à paternidade divina, que saberá educar cada um pelos instrumentos da lei, ante o buril do tempo.
Marta
Salvador, 10.02.2022
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