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Foto do escritorCasa de Jesus

Primavera de Marta - Mensagem do dia 11.10.2022



Aos teus olhos, parece que o mundo virou uma imensa babel. Por mais que surjam teorias pacifistas, a crise espouca sem controle, ameaçando tudo levar de roldão, numa enxurrada de loucura e insensatez.


Em torno de teus passos, observas uma infância cercada de todas as possibilidades materiais, mas privada do carinho dos pais, porque estes estão nas lutas para a manutenção financeira da família ou, quando abastados, se furtam da convivência com filhos birrentos e chorões, terceirizando a educação dos mesmos. Em uma terceira alternativa, se fizeram escravos das redes sociais, olvidando que os descendentes suplicam orientação no bem.


Constatas a juventude sem freios, mergulhada nas dissipações de toda ordem, qual alazão selvagem em campos sem fronteiras. Com todas as facilidades da vida moderna, beneficiando milhões, sem orientação adequada, se fazem cultores de ídolos de barro, empregando as próprias forças na satisfação de prazeres corporais, dos quais muitos saem mutilados emocional e psicologicamente.


Uma madureza sedenta de triunfo na ribalta dos negócios, como se a vida se resumisse a cifrões e bitcoins, apólices e carrões tipo último modelo.


Corpos esculpidos em academias sofisticadas ou em caríssimas cirurgias de natureza estética, onde se busca a perfeição na ponta do bisturi. E teu senso de observador dá conta de que grande parte carrega consigo graves transtornos do humor e da afetividade, não raro surtando em escândalos que parecem tão comuns que não chocam mais a sociedade, habituada a esses periódicos rompantes das ditas celebridades.


Teu senso de observador perscruta agora o ambiente religioso dos dias hodiernos e tens a nítida sensação que as religiões fracassaram. Muitas religiões, escassa religiosidade nas almas.


Discursos salvacionistas de ocasião, condutas fora do púlpito em completo divórcio com a catilinária pregada.


Escândalos envolvendo religiosos de variadas confissões, fanatismo dentro de tua própria família. Alguém que ontem te respeitava a confissão adotada e hoje, supostamente convertido a esse ou aquele credo de intolerância, se volta contra tua opção, tentando te lançar algemas dogmáticas para que penses como ele pensa.


Buscando sair um pouco da histeria coletiva das ruas, ligas a TV ou buscas os canais da internet. E numa febricidade sem igual, observas o aluvião de propagandas te martelando os dedos para adquirir este ou aquele produto, te fazendo um consumidor voraz e compulsivo.


Marcas famosas em lábios que não param de sorrir.


Cenários paradisíacos anunciam condomínios cercados de grades e guaritas, cercas eletrificadas e segurança armada 24 horas, te ofertando a sensação de que ali, os meliantes que perambulam pela cidade te deixarão em paz.


E mesmo quando tens alguma oportunidade de sair da metrópole agitada ao ambiente rural, notas as antenas e torres de comunicação erguidas em serras e montes, garantindo tua integração na rede mundial de computadores.


Tratores rasgando o solo, caminhões cheios de alimentos para os frenéticos mercados da cidade grande, jatos riscando os céus com centenas de passageiros a bordo.


Em algum momento, sentes um profundo aturdimento em torno de teus passos. Em qualquer ambiente buscado, o excesso de barulho te furta um minuto de silêncio.


Sirenes gritam lá fora, exigindo ruas livres para a polícia, os bombeiros ou a ambulância, transportando alguém nas últimas.


Sim, desejarias que numa manhã ninguém tirasse o carro da garagem. Metrôs e trens nas oficinas. Ruas vazias, permitindo que as pessoas se encontrassem para o cultivo do diálogo fraterno. Sentes a falta de também falar de tuas angústias, de tuas buscas existenciais, mas até aqui quase todos te procuram para descarregar as próprias tensões.


De há muito tempo deixaste de te consultar com um bom livro. E na ilha emocional que ainda sobrevive em teu conturbado oceano de exigências do mundo, tens uma saudade não aplacada, um vazio não preenchido.


Quem dera numa esquina dessas, Ele surgisse como outrora.


Pés descalços, túnica amarelada, cabelos soltos ao vento.


Nenhuma mochila às costas.


Nenhum smartphone nas mãos.

Fone de ouvido? Nem pensar!

Ele vinha caminhando pela calçada, conversando com um e com outro, até que os olhos D'Ele se fixaram nos teus.


Não te perguntou o nome, não indagou de tua origem, não te interrogou sobre os fracassos enfrentados nem desejou saber tua profissão, mas pudeste sentir que Ele auscultou tua alma e percebeu tuas inquietações.


Tua emoção travou tuas cordas vocais, e da comporta de teus olhos tristes uma torrente de lágrimas desceu sem controle.

Nem uma palavra pronunciaste. E Ele deu a entender que sabia de tudo.


Te acolheu num abraço, te girou o corpo em direção contrária e caminhou contigo em direção ao mar.


Ali sentou ao teu lado na praia e por longos minutos, tu e Ele, ficaram lado a lado, absorvidos e extasiados pela majestade do oceano sem fim.


Ligeiro cochilo te retirou desse mundo de barulho e frenesi. Quando tua consciência voltou ao pleno funcionamento, Ele já não estava lá. No lugar de areia onde Ele sentara, um verbete ali estava para tua edificação:

Ama!

Se estas três letras forem postas em ação, tua vida terá outro sentido existencial.

O mais, é adereço num baile de máscaras.


Marta

Juazeiro, 11.10.2022

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