Primavera de Marta - Mensagem do dia 11.11.2022
- Casa de Jesus

- 11 de nov. de 2022
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A qualquer ceifeiro das verdades cristãs surgirá a seara do mundo por vastíssimo campo de serviço, ainda escassa de operários dedicados. Desde os dias inolvidáveis do Evangelho, o número daqueles que se dispõem a abandonar a zona de conforto para enfrentamento das tormentas humanas permanece um desafio quase que sem solução. O próprio Cristo operou em regime de escassez de colaboradores, começando o messianato com 12, terminando com 11, tendo convocado os 70 e qualificado os 500 da Galiléia. Ainda assim, foi buscar às portas de Damasco a figura incomum de Saulo, mas não pôde contar com ele de imediato. Somente três anos depois de profundas meditações, jejuns e alterações íntimas foi que o vaso sujo pôde acolher a essência divina, sem colocar em risco maior sua pureza original.
Isso vem significar que muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Ao convite do Mestre, muitos se apresentam animados e decididos, mas quando situados à frente das condições áridas da tarefa, em grande parte ocorre o recuo imediato para suas defensivas e retaguardas de acomodação.
Como peregrinar sob a chuva ácida das críticas alheias?
De que forma sustentar o entusiasmo na obra cristã, se o beneficiado se mostra refratário às lições e visivelmente contrário a qualquer mudança que não atenda a seus interesses particulares?
Seria possível lançar pérolas aos porcos e esperar destes meditações profundas acerca da mensagem do Cristo?
Mexer em ninho de vespas quase sempre expõe o trabalhador às ferroadas dolorosas do inseto, incomodado com a invasão indevida em seu diminuto território de atuação. À semelhança, muitos reagem em sentido contrário quando a virtude sugere o abandono de vícios.
Se a luz chega, a treva bate em retirada, mas alguém tem de sustentar o azeite da lamparina e, na maioria das vezes, torna-se o próprio pavio, se deixando consumir a olhos vistos, para garantir o êxito mínimo da tarefa.
Não há vitória sem lutas.
Se o mundo ainda não apresentou as mudanças propostas por Jesus, não obstante vinte séculos decorridos de Sua paixão e morte, é que essa mensagem ainda não foi devidamente estudada, degustada e vivida. Compreensível esperar que muitos refutem nossas colocações, alegando que a sementeira se alastrou muito pós Jesus, e que em cada lugar já se observa o erguimento de um núcleo que congrega corações em torno da Boa Nova, com o que concordaremos. Entretanto, se a quantidade cresceu, onde está a qualidade desejável?
Onde localizar a abnegação que não pactua com interesses puramente materiais, nem exige condições para a realização das tarefas que urgem num mundo em grave crise de valores?
Observa-se que qualquer contrariedade surgida na seara tem derrotado servidores fiéis, que lançam fora as ferramentas recebidas para o desiderato da luz. Alguns enterram seus talentos, buscando salvaguardar as dádivas recebidas em urnas douradas de comodismo e pusilanimidade. Receiam a zombaria do mundo, temem perder vantagens adquiridas no imediatismo terrestre e alegam que pregar abnegação a dissolutos, desprendimento a avaros, fraternidade a egoístas e humildade a déspotas seria rematada loucura nesses tempos de predomínio materialista.
O resultado é quase que imediato.
Os poucos que ficam estão sobrecarregados de atividades. Raramente dormem no mesmo dia que acordam. Suas refeições são frugais. Seu tempo para diversão não existe e as lágrimas são suas companhias mais frequentes. Olham as facilidades do mundo com desejo de compartilhamento mas, abrasados pelo fogo íntimo, deixam tudo que entorpece os sentidos e buscam dilatar no mundo a mensagem libertadora, que lentamente vai preparando a Nova Era.
Seu cansaço a outros descansa.
Suas fadigas contínuas são reparadas na oficina da fé.
Se fazem silenciosos, ampliando a audição numa época em que todos querem falar ao mesmo tempo.
Quase ninguém tem tempo para os escutar. Estão ocupados demais com os brinquedos da vida material para situarem a mente acima de cifrões e posses.
Sim, eles são poucos, cansados e fatigados, mas estão por toda parte.
Qual silenciosa brigada de luz, se distribuem na imensa gleba, lançando sementes e escavando o solo.
Movimentam arados e mobilizam enxadas gastas na terra ubérrima, preparando a safra do amanhã.
E quando o crepúsculo da existência os alcança, regressam exauridos à casa do Senhor, ali prestando contas dos labores realizados.
O pátio quase sempre tem escassos servidores desse naipe. E quando o meirinho da morte os alcança, na opinião apressada de beneficiários e atendidos, seguiram eles para a comunhão contemplativa do Pai, se postando num céu de ócio eterno. Ignorantes da vida espiritual, não sabem que em parte alguma do universo reside a paralisia, a estagnação. Tudo e todos estão em constantes mudanças de natureza material e vibratória.
O átomo anseia pela angelitude. O irracional preliba a conquista da razão. A sensibilidade do vegetal é antessala das emoções superiores. Mas cada conquista é adquirida na luta, no sacrifício e na abnegação.
Se, de alguma forma, repousa em tuas mãos uma tarefa na melhoria do mundo, investe primeiro em tua própria iluminação. Clareia teu mundo íntimo.
Consolida tuas convicções.
Permuta crença por entendimento.
Ora, mas também, ara.
Une tua fé às obras.
E quando a zombaria chegar, a pedrada rasgar o ar em tua direção, a crítica procurar diminuir teu valor moral, sacode o pó de tuas sandálias gastas, levanta a fronte caída e avança.
Quem adotou Jesus como paradigma não pode esperar do mundo poltronas de luxo e controle remoto de facilidades. Com Ele, a cruz tem sido o troféu das lutas intérminas do bem contra o mal e do amor que dilui o ódio onde este se encontra.
Avancemos! Jesus aguarda.
Marta
Salvador, 11.11.2022



