Em meio a uma colossal revolução industrial e tecnológica, econômica e comercial, o homem tem descoberto as vantagens das parcerias nas coisas do mundo. Grandes conglomerados surgem e se consolidam nesse ou naquele ramo do comércio, estendendo uma capilaridade mundial. Matérias primas, insumos e fabrico exigem crescente controle de qualidade e a mão de obra reclama qualificação, capacitação e aperfeiçoamento incessante, sob pena de defasagem e superação pela concorrência, cada dia mais agressiva. Mas a convivência em grupo foi e continua sendo um enorme desafio.
Esperar acolhimento das ideias que nos são próprias é exercício de utopia e se enxergar "patinho feio" pode ser reflexo de baixa auto-estima ou complexo de inferioridade. Cada pessoa tem seu valor próprio e carrega consigo um potencial que o grupo desconhece.
Já é cediço que o confronto não é uma atitude inteligente, quase sempre retratando arrogância e presunção, se buscando ter supremacia no coletivo.
Pessoas sem brilho tentam apagar a claridade dos que alumiam outras vidas. Se fazem críticos ferozes e desalmados de métodos e organogramas, mas são incapazes de ofertar sugestões para melhoria das relações interpessoais, salvo aquelas que lhe reflitam o ego em exaltação.
Verborrágicos, falam muito, fazem pouco.
Teóricos, afirmam saber com lucidez as etapas de maturação de um grupo, mas nele não se integram, optando por ficarem à margem, e com as mesmas mãos do abano agridem e sufocam as iniciativas de outros.
Em qualquer discussão, tentam gritar seus direitos, recusando cumprimento de deveres. E na tribo de muitos, fogem da condição de índios, ambicionando sempre a auréola do pajé ou o comando do cacique.
Jesus os teve por perto.
Na constituição nascente do Cristianismo, o colegiado apostólico era bem a matriz dos grupos dos tempos que estamos atravessando, com suas peculiaridades. Doze homens difíceis, pouca cultura e o foco na expulsão do romano invasor, permitindo triunfo de Israel.
Entretanto, a liderança do Divino Amigo era a diferença que inexistia naquele tempo e naquelas circunstâncias.
A pedagogia do Embaixador de Deus era centrada no amor ao próximo, serviço desinteressado e renúncia às ilusões do mundo, regido pela impermanência de tudo.
Quem ambicionasse ser o maior no Reino de Deus se fizesse servo de todos na Terra. Lavasse os pés dos companheiros de ideal. Aceitasse as imposições e críticas dos mais próximos.
Inexistindo patrimônios materiais, a liderança do grupo estava centrada na figura de Jesus, que a exercia por ser o mais moralizado de todos.
Sua pedagogia do afeto conquistava corações.
Seu otimismo contagiava.
Sua fé nutria os desalentados.
E mesmo tendo dividido a história, não fugiu dos rudes testemunhos. Um traiu, outro negou e o resto se ocultou na pusilanimidade.
Ele refez o grupo na edificação da Casa do Caminho, forneceu diretrizes para os 500 da Galiléia e sensibilizou Saulo para disseminação de Sua causa entre povos considerados gentis.
Qualquer migalha de boa vontade era aproveitada. A mais infantil ideia se erguia, altaneira e nobre, buscando atender as massas esfaimadas.
Se presentemente te vinculas a um grupo desse ou daquele quilate, cultiva a resiliência. Ouve muito e fala pouco. Escuta pontos de vista diferente dos teus sem azedume ou agressividade.
Desapega-te das cartilhas prontas e investe na musculatura saudável do grupo, te aproximando de cada membro sem servilismo barato e sem dureza irritante.
Se pensas, no grupo também tem outros pensantes. Se és criativo, igualmente outros possuem ideias luminosas sobre isto ou aquilo.
A dureza de coração tem ceifado muitos agrupamentos ainda no nascedouro. Outros, até caminham certo trecho da estrada, mas não resistem aos entrechoques de mentes raivosas, tóxicas e ácidas.
O grupo simplesmente derrete, desidrata.
Não te esqueças de que no auge dos grandes embates estéreis no grupo, mentes na erraticidade insuflam cizânia e hostilidades, abrindo campo para insinuação do joio em meio ao trigal de esperanças.
Nada de bom se edifica com tijolos de arrogância e cimento de autoritarismo.
São mausoléus cheios de sombras.
Sê tu uma lamparina em teu grupo de trabalho ou estudo.
Quando a luz faltar no discernimento deste ou daquele componente, oferta teu equilíbrio e restaura a harmonia prestes a ser vencida.
Quem cede, prossegue.
Que seria de nós se Deus se irritasse com nossas picuinhas de grupo?
Nem quero pensar!
Marta
Salvador, 12.07.2022