
À medida que as ciências avançam, o homem dispõe de ferramentas cada dia mais precisas para prevenir e alertar sobre as ocorrências que podem colocar em risco a vida na Terra.
Sismógrafos de precisão cirúrgica acusam a magnitude de tremores nas placas tectônicas e sinalizam evacuação de populações inteiras, prevenindo tragédias.
Satélites em órbita geo-estacionária esquadrinham o clima e fazem soar o alerta na temporada anual dos furacões e chuvas torrenciais.
Nuvens de gafanhotos e outros insetos daninhos são monitorados por drones, permitindo a agricultores tomar as medidas cabíveis para diminuir o estrago nas lavouras.
E em cada setor onde a economia palpita, a inteligência humana desenvolve um artefato que lhe assegura antecipar as graves mudanças climáticas ou mesmo identificar meteoros errantes, em possível rota de colisão com o planeta que lhe serve de morada.
Entretanto, é possível constatar que as vozes que proclamam ser o próprio ser humano o grave perigo para a Terra quase nunca são ouvidas e, quando são, logo depois são ignoradas.
Derretimento do gelo nos polos, destruição da camada de ozônio, aquecimento global sem controle, poluição nos mares e efeito estufa são sinais inequívocos da ação descontrolada da criatura humana sobre a sofrida Gaia.
O homem é o agente, o ator principal desse cenário de profundas mudanças que vem afetando bilhões de vidas em todos os continentes, gerando apreensão e medo em quase todos. Insegurança alimentar, nova palavra para designar a fome traiçoeira que se abate sobre milhões de bocas famintas, passa a representar não só os efeitos da guerra na Ucrânia, mas igualmente o egoísmo feroz do ser pensante, que cogita em primeiro lugar na sua própria sobrevivência, olvidando que o semelhante padece de terrível escassez.
Em tempo algum a busca por riquezas e fortuna foi tão intensa como na atualidade. O mito do tio patinhas está tão presente nos tempos modernos quanto na ficcional Patópolis de Walt Disney. Bruxas tresloucadas andam de vassouras, à cata da moedinha número um. O ser humano se faz lobo de seu próprio irmão, escondendo recursos e especulando imóveis, que nunca podem sair do mundo.
Por mais que se tenha, tudo quanto se possui é tralha que o tempo consome e a morte transfere de mordomo.
O uso abusivo e criminoso dos recursos naturais desencadeia no planeta uma autorregulação, que o faz repelir os fluidos venenosos injetados pela cobiça humana, sacudindo as entranhas em colossais cataclismas, a tudo renovando em derredor.
Leis divinas regem o micro e o macrocosmo, e quando são violadas, acionam automaticamente mecanismos de corrigenda, que promove entre os encarnados aquilo que se convencionou chamar de destruição ou flagelos naturais.
Fadado a um porvir de glórias e regeneração, o planeta azul reclama a modificação moral e comportamental do seu mais ilustre habitante.
Menos egoísmo, mais altruísmo.
Compartilhamento dos recursos existentes com a massa de esfaimados.
Patrocínio de uma saúde holística, onde a doença encontre amparo e assistência, promovendo a dignidade da pessoa humana.
Educação sem discriminação de qualquer espécie.
Trabalho e moradia dignas para todos.
Não depende tais providências apenas de governos organizados. Cada um pode e deve se mobilizar para a gradativa extinção das desigualdades sociais, mantença de uma justiça que trate os iguais igualmente e os desiguais, desigualmente.
Quando, junto das leis humanas, começar a prevalecer as diretrizes morais do Cristo, a segunda iluminará a primeira, abolindo castas e preconceitos de todo naipe, patrocinando a eliminação gradual das atuais aberrações no campo da discriminação de um humano por outro.
És parte imperfeita de uma sociedade igualmente doente.
Respiras o mesmo ar cheio de miasmas que os demais, igualmente intoxicados com o bafio pestilento desses dias de insânia e despautério.
Talvez não te ouçam, nem tenhas oportunidade de fruir os decantados 15 segundos de fama.
O que digas será adulterado.
O que faças sofrerá duras críticas.
O que escreva será lançado no lixo.
Não importa.
Faze de tua consciência teu juiz máximo e segue teu coração, já tocado pelas claridades diamantinas do Evangelho.
Será por ti e em ti que Ele começará uma silenciosa mudança no cenário do mundo.
Ele não tem pressa.
Quanto a tu, olha teu relógio, porque já amanheceu um novo tempo.
Marta
Salvador, 13.06.2022