A história universal permanece como a incansável testemunha das glórias humanas no campo do saber. Das eras primitivas até os dias da ciência quântica, a evolução do conhecimento tem projetado a criatura em patamares cada vez mais impensáveis.
De Demócrito de Abdera e Leucipo a Rutherford, o homem devassou o átomo e penetrou os seus segredos, descortinando uma série infinita de possibilidades no campo da física.
Dos alquimistas do passado, a manipularem os quatro elementos básicos, o enxofre, o sal e o mercúrio até a química de Mendeleev, com sua tabela periódica, os laboratórios estão a descortinar milhares de aglutinações do tijolo primordial, facilitando a vida de milhões de indivíduos.
Dos astrólogos da Caldeia ancestral, da Mesopotâmia e da Síria, viajamos nas antigas narrativas de observadores empíricos de constelações distantes até os tempos do Hubble e do James Web, cujas fotografias estão descortinando paisagens do universo nunca antes imaginadas.
Das aventuras de Júlio Verne, com o capitão Nemo e as suas vinte mil léguas submarinas, navegamos hoje em gigantescas cidades flutuantes, onde 4 mil pessoas possuem todas as comodidades de uma metrópole terrestre.
As observações de Galileu e Copérnico estão inteiramente devassadas por sondas não tripuladas, permitindo que o inquieto homem dos séculos XX e XXI possa examinar a intimidade de astros e satélites longínquos, tentando equacionar se estamos sozinhos ou acompanhados na periferia da via láctea.
Enquanto o cérebro delira e perscruta o infinito, as buscas existenciais e filosóficas não são menores. Dos pré-socráticos ao filho ilustre de Atenas, de Platão a Santo Agostinho, da patrística à teologia da libertação de Boff, nossas inquietações no campo da crença e da religião ainda são imensas, sulcando o solo de nossa milenar caminhada de incertezas acerca do além-túmulo.
O homem do paleolítico vagava nas vastidões das savanas africanas, unicamente preocupado com o abate de animais que alimentasse o clã, sem cogitar da existência de Deus, enquanto o homem da internet e das redes sociais está fundamente preocupado com a oscilação das bolsas e com o barril de petróleo, temendo perder recursos vultosos na especulação imobiliária ou nas casas de apostas do mundo.
O ser dos tempos atuais transpira inquietação pelo porvir e se deixa assaltar pelo medo de sucumbir à noite do túmulo, perdendo todas as conquistas materiais acumuladas.
Quando estas e outras transformações parecem fazer do século das luzes um estranho paroxismo, de difícil compreensão e intragável digestão mental, o Natal surge com sua profunda mensagem de vida e esperança.
Um nascimento que dividiu a história.
Uma personalidade que ofuscou déspotas e tiranos, verdugos e sábios, pensadores e filósofos.
Sua vida até hoje comove e encanta.
Seus feitos arrebataram milhões de seguidores.
Suas histórias e parábolas continuam com o viço e o mesmo ardor da época em que foram narradas.
Sua biografia é a mais decantada do mundo, em todas as épocas. N'Ele, cessaram-se os processos.
Nenhuma mácula.
Absolutamente nenhum deslize moral. Portador da saúde integral, conviveu entre doentes de toda ordem.
Enquanto predominava o pensamento rasteiro, refém das questiúnculas ridículas, Ele enxergava o amanhã distante, nos antecipando no tempo.
Nosso reino tem sido o de César. Ele situou suas primícias num campo inacessível ao sofrimento, nos convidando ao banquete divino.
Ofertamos cidadania ao crime e prestamos homenagens ao ridículo, enquanto Ele buscava as ovelhas perdidas da casa de Israel, fechando feridas e sarando machucados.
Numa sociedade palradora e fã dos mexericos da Candinha, onde o verbo, escrito ou falado, digital ou analógico, se tornou ferramenta de rebaixamento do caráter e lama na dignidade, Ele vem propondo há vinte séculos que seja o nosso falar sim, sim, não, não!
Muitos correndo atrás das poltronas de luxo. Ele, usando barcos numa praia ou içado numa cruz de opróbrio e injustiça, a todos atraindo para Seu reino de ventura e amor.
Jesus permanece o Alfa e o Ômega da evolução desejada por homens e mulheres.
Tem muitos admiradores. Faltam seguidores dispostos à renúncia.
A ação D'Ele na Terra reclama braços humanos.
Jerusalém hoje é o mundo, que estertora na guerra e geme na violência urbana e rural. Símbolo perene de paz e mansuetude, otimismo e esperança, tem nos aguardado a decisão por milênios sem fim.
Até quando?
Neste Natal, reverencia o nascimento D'Ele ao pé do presépio singelo. Permite que tuas lágrimas, qual lixívia refrescante, retire a mácula de teus olhos. Ora, silenciando teus rogos em balbúrdia emocional. Agradece teres chegado até aqui. Muitos não conseguiram.
Ergue-te em corpo e alma e busca ser o Natal na noite moral de alguém que perdeu a esperança, desidratou a fé e afirma não ter mais motivos para viver.
Sê o procurador do Cristo no coração de alguém que a dor parece desfigurar.
Farás de tua noite de Natal um momento inesquecível, onde ouvirás, uma vez mais, o sublime cântico dos anjos: Glória a Deus nas alturas! Paz na Terra!
Boa vontade para homens e mulheres!
É Natal! Jesus renasce uma vez mais entre nós.
Marta
Salvador, 13.12.2022
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