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Primavera de Marta - Mensagem do dia 14.09.2022



Dentre as maravilhosas ferramentas de que dispõe o homem no mundo, a palavra se ergue como instrumento delicado, ora edificando sublimes expressões do pensamento, ora calcinando a esperança. Seu manejo adequado e lúcido através da língua tem sido a causa de esplêndidas manifestações da inteligência, veículo admirável da cultura e fonte de inesgotáveis bênçãos para a criatura humana. Arrojada dos lábios pela catapulta da leviandade, tem sido o leviatã da discórdia, o lúcifer da anarquia e o Mefistófeles da ignorância.


Discursando nas praças de Atenas, Sócrates lançou os fundamentos da Filosofia e educou jovens e moços nas trilhas da ética, legando ao mundo antigo a notável escola maiêutica.


Péricles, estadista de escol, fez da palavra base da democracia grega de seu tempo.

O verbo incisivo de Moisés inspirou o povo hebreu à obediência e ao acatamento das ordenanças divinas, que o filho das águas traduzia na sua simplicidade de então.


Orígenes e Jâmblico, notáveis filósofos da escola neoplatônica de Alexandria deixaram ao mundo antigo arrebatadores discursos acerca da origem da vida e da manifestação do sagrado.


O bispo Ambrósio, na catedral de Milão, emocionava os fiéis quando ministrava as lições de Jesus, traduzindo em palavras o arrebatamento que o assaltava nesses momentos de êxtase.


Agostinho de Hipona se fez admirável orador, articulando o verbo com destreza incomum.


Pedro, o eremita, inflamou incontáveis indivíduos na Europa Medieval, incentivando as cruzadas, onde milhares perderam a existência em lutas contra os mouros. De igual modo, usando o verbo com astúcia e intenções perturbadoras, Urbano II conclamou os católicos de seu tempo a buscarem pelas lutas fratricidas a libertação do santo sepulcro, lhes assegurando, de maneira imoral e indigna, o Reino dos Céus caso obtivessem a vitória almejada.


E oradores de vulto se destacaram em todas as épocas da humanidade. Em plena Alemanha do século XX, após ascender ao posto de comando no pós guerra, Adolf Hitler se valeria de sua hábil facúndia para incendiar de ardor a juventude de Munique, aliciando homens e mulheres para o holocausto que se instalou na Terra entre 1939 e 1945.


Seja na sua usança para a disseminação da verdade e da luz, da esperança e do otimismo, ou quando ela é arrojada como cascata de trevas sobre mentes invigilantes e frágeis, o verbo é sempre o mesmo, portando as intenções daquele que a profere.


Carrega consigo elementos de natureza psíquica, que podem acalmar a mente inquieta, renovar concepções e persuadir o ser a novos caminhos, permitindo a adoção de inesperadas deliberações. Construída para a veiculação do fanatismo e da agressividade, pode transformar homens em víboras e mulheres em serpentes, arruinando as melhores intenções.


Presentemente, é manipulada por bilhões de internautas diariamente, na feição de áudios e textos eletrônicos, favorecendo o império das sombras ou abrindo campo à criatividade promissora.

Seja como seja, cada um arroja de si somente aquilo que lhe vai no coração. Cada árvore só pode ofertar os frutos que lhe são próprios.


Uma mente sintonizada no bem tecerá maravilhosas frases de enlevo e otimismo, patrocinando harmonia e cura para os males da alma. Com o verbo, libertará alguns da ilusão e da ignorância, apontando diferentes caminhos do progresso e da evolução.


Tecida nas oficinas íntimas da arrogância e do oportunismo, se converte em grilhão de manipulação barata e sombria, dilatando no mundo a rebeldia e a insensatez.


E em meio a tantos oradores célebres, Ele se destacou por sintonizar Seu verbo com a estação divina.


Quando falava, libertava consciências das sombras íntimas, dissolvia a ignorância predominante e renovava concepções.


Sua palavra arrancou muitos da morte moral.

Confundiu doutores e mestres da casuística.

Suas admiráveis parábolas ainda hoje são símbolos cheios de luz e sabedoria.


Cada verbete inoculava no ouvinte uma esperança e um anseio de libertação jamais experimentado.

Nunca disse o que sabia. Falava o que o outro podia compreender.


Dosava seu verbo de acordo com a capacidade de entendimento do ouvinte.

Em inúmeras circunstâncias, optou pelo silêncio e fez dele eloquente discurso não articulado, convidando Seus seguidores à meditação.


E o verbo se fez carne e habitou entre nós, disse João...

Hoje, tens pela frente inesperadas situações. Teus limites serão testados. Tua paciência posta à prova.


Em algum momento, serás constrangido a opinar.

Te exigirão uma opinião sobre isto ou aquilo.


Redes sociais solicitarão teu parecer sobre o momento político ou sobre a vida social.

Alguém te surgirá com esse ou aquele problema, buscando em ti uma orientação.

Ou te refugiarás no silêncio ou te renderás ao verbo.


De um, serás sempre senhor.

Do outro, escravo.

E aí, fez tua escolha?


Marta

Salvador, 14.09.2022

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