De alguma maneira, poderemos situar a própria marcha como se num veículo estivéssemos, atravessando enorme e desconhecida estrada.
De algum ponto saímos, qual recanto de um vale florido, cuja gênese desconhecemos por completo. O amor de Deus nos fez brotar para o espetáculo da vida e estamos em pleno curso, rumando por uma avenida cheia de surpresas. Junto de nós, ora em alta velocidade ou quase parando, encontramos com frequência quem igualmente vai seguindo, sendo que cada veículo possui marcas das vias por onde andou.
Amassados na lataria da sensibilidade.
Pneus murchos no campo da esperança.
Para-brisas embaçados pelo nevoeiro da ilusão.
Maçanetas danificadas por estranhas caronas.
Entre máquinas novas, onde pilotos inexperientes se deslumbram com a largueza da estrada, e automóveis já bastante rodados, onde no volante temos condutores marcados por vasta experiência na direção e muita história pra contar, seguimos também com nossas possibilidades colocadas à prova.
Vez por outra uma fiscalização obriga parada para aferição de algum item do carro.
Habilitação nas atitudes.
Combustível mínimo, evitando paradas indesejadas e engarrafamento intencional, passível de multa pesada.
Pneus carecas, atestando descaso do condutor para com sua ferramenta de trabalho.
E quando liberados pelos guardas da vida, retomamos a estrada com diferente ânimo.
Sob advertência, reorganizamos a marcha.
Multados, nos obrigamos a observar a sinalização existente e que foi desrespeitada.
E na via de longo curso, não pode deixar de existir paradas estratégicas para refazimento do manobrista e reparação do veículo pesado, ocasião esta em que no mesmo posto ou abrigo, ouvimos histórias e permutamos impressões.
Forasteiros que falam de trechos intransitáveis.
Viajantes que desfilam tragédias.
Os que viram graves acidentes. Quem deu carona a desconhecidos e ganhou um amigo. Quem ajudou veículos quebrados e padeceu artimanha das sombras, caindo em ciladas de mentes criminosas.
Motoristas falastrões, exaltando a habilidade nessa ou naquela curva, esquecidos de que em cada trecho ocorrem muitas surpresas.
Condutores calados, como que mergulhados em dolorosas lembranças dos trechos já vencidos.
E famílias inteiras, em excursão alegre, ansiosas por chegarem ao parque das diversões sem fim.
Entre tantos, teu veículo também circula nas largas estradas do destino.
Donde vens?
Para onde vais?
Quando atingirás teu destino?
Tens combustível suficiente para a longa marcha?
És peregrino da esperança e filho da grande luz! Teu roteiro começou no ontem longínquo e ruma para o futuro sem fim.
Se trazes o Cristo como bússola, nada tens a temer na marcha em pleno curso.
Se transportas, ainda em teu bagageiro, as malas da ilusão e da fantasia, muito provável que te percas no caminho, pernoitando em falsos abrigos e te sujeitando a enorme atraso em tua chegada para o festim das bodas.
Tanto quanto possível, recorre ao GPS da oração se perderes o rumo e a direção e, onde trafegues sem auxílio aparente, guia teu carro emocional pelas linhas da disciplina e das austeridades morais, buscando preservar teus sonhos mais caros.
Em seguindo contigo, enfrentaremos juntos a névoa da manhã, o sol escaldante da tarde e acenderemos faróis na noite escura.
Importante é seguir sempre rumo a Ele. Nisso deve residir nossas metas comuns.
O mais, é passageiro.
Marta
Salvador, 14.11.2022