Primavera de Marta - Mensagem do dia 15.08.2022

Deitastes com inúmeros problemas te inquietando entre os lençóis.

Amarguras de difícil descrição.

Um vazio existencial, desassossegando a alma.

Exames sobre a mesa sinalizando

alterações no corpo em distonia.

Dívidas, contas a solver.

E a noite se arrastou entre as baladas de um relógio tirânico, que rege as horas, mas não oferta solução.

Imaginas que em muitos lares as dificuldades estão solucionadas e seus moradores fruem a noite em completa serenidade, com absoluta isenção de ansiedades e neuroses.

Quanto engano teu!

Não longe de teu refúgio de cimento e pedra, casais explodem em crises conjugais de difícil solução.

Filhos jazem nas drogas e os pais em delegacias, tentando amenizar os disparates da prole que as substâncias psicoativas enlouqueceram.

Pessoas endinheiradas permanecem em custosas camas, de almas cerradas à iluminação interior, inteiramente avassaladas por sombras indefiníveis em palavras.

Surtados de toda ordem buscam ajuda especializada para seus rompantes de loucura e muitas famílias velam, em capelas tristes, o ente querido que a morte subtraiu do convívio sem aviso prévio.

Teus problemas não são maiores nem menores do que dos teus irmãos de jornada. São dores tão respeitáveis quanto às deles.

E mesmo que tua noite tenha sido insone, em algum momento de hoje te chegarão apelos de pessoas próximas, suplicando-te alguma migalha de ajuda.

Este, te roga um empréstimo para se libertar de credores implacáveis.

Aquele, te comunica em catilinária difícil uma situação que ao teu julgamento é de fácil solução, mas para o suplicante parece um monstro invencível.

Mais um outro te buscará o concurso pelas redes sociais e, tomado de ansiedade galopante, quase exigirá pronta resposta, ignorando tua sobrecarregada agenda de início de semana.

Um familiar próximo cairá em pranto te narrando uma desilusão amorosa.

E o cerco não te deixará pensar nos próprios problemas. A Divindade parece convocar-te para seres auxiliar de Deus na diminuição dessas agonias de todo dia.

Portas que não se abrem como o indivíduo gostaria. Oportunidades que surgem num minuto e se desvanecem no minuto seguinte, deixando uma profunda sensação de impotência. Minutos de riso e horas de preocupação martirizante.

Como se equilibrar nessa corda bamba, oscilante entre extremos e o abismo lá embaixo?

Até mesmo os instantes consagrados à prece estão ficando escassos. Quando o corpo tem fome, de maneira expedita o inquilino busca a cantina, o lanche improvisado e ligeiro e elimina o incômodo, mas e quando a alma que somos reclama momentos e pausas na oração, que providências adotamos?

Que nutrientes de natureza psíquica tens consumido diariamente?

Qual o material com que tens nutrido teu coração?

Em verdade, estamos todos no mesmo barco, mas ainda achamos que somos passageiros da classe executiva.

Aceitamos Jesus, mas exigimos solução de problemas corriqueiros como quem dispõe de um motoboy para entrega ligeira de nossas encomendas.

Incontáveis cristãos se julgam credores de maior atenção de Deus tão somente porque frequentam com assiduidade esse ou aquele templo de orientação religiosa nas bases do cristianismo. E fazem dessa frequência válvulas de escape do enfrentamento dos próprios problemas, na tentativa de ludibriar a consciência, sabotadores da própria felicidade.

Tens orado ou tens rezado?

Se oras, ouves Deus.

Se rezas, exiges atenção dos ouvidos divinos.

Certamente que ninguém jaz ao desamparo, mas em parte alguma viceja privilégios para filho algum.

Diante das Divinas Leis, estamos todos em pé de igualdade, mas cada um aproveita as oportunidades conforme seu grau de evolução e sua lucidez permite.

Tem gente lépida na estrada. Tem gente fazendo cera na caminhada.

Alguns param para acumular o que não lhes pertence e se deprimem por não poderem satisfazer os pesadelos que lhes vergastam a intimidade.

Outros, querem o domínio do mundo, ignorando o próprio domínio.

Sabes o que te espera hoje além de teus muros?

Certamente que não e o excesso de interrogações pode te criar muitas expectativas.

Dentro do possível, ergue-te do leito, articula tua prece em silêncio e na serenidade que te seja possível, retoma as atividades que te estão afetas no mundo, que ruge lá fora como um leão indomável, mas nunca te esqueças de que teu nome está escrito no livro do Reino dos Céus e em algum momento o call center divino te indicará o paradeiro a um perdido ou desorientado, que te buscará para desabafar e chorar, reclamar ou maldizer a sorte.

Podendo, ajude.

Não podendo ou não querendo, ore.

O resto, Deus fará.

Marta

Salvador, 15.08.2022