Primavera de Marta - Mensagem do dia 15.12.2022
- Casa de Jesus
- 15 de dez. de 2022
- 3 min de leitura

Em refletindo sobre a obra do professor Rubens Romanelli, tecida na delicadeza do mais refinado pensamento filosófico, uma imensa onda de ternura e gratidão pela vida nos invade a alma, em êxtase diante da sublime inteligência que rege a harmonia do universo. O Primado do Espírito é desses livros que marcam o leitor de maneira indelével, rasgando de alto a baixo o crepe sombrio da ignorância, se nos dilatando o entendimento acerca da grandiosidade do viver e do existir.
Em toda parte há um convite não declarado, não explícito, ao trabalho de aperfeiçoamento dos mecanismos do viver. Posto em ação, a convivência carreia óbices e surpresas, achaques e atritos, mas quem chega, deixa um pouco de si, quem parte, leva um pouco de nós.
Ninguém tão miserável que não possua algo imaterial de bom para ofertar. Pessoa alguma tão opulenta e rica que não traga consigo um traço de inferioridade e vileza.
Nos pequenos frascos, as maravilhosas essências do campo. Em cada recanto da natureza um poema, uma prece de gratidão.
Sem qualquer demérito para com as construções da cerebração humana, filhas do cálculo e da geometria, a Providência Divina cada instante nos cerca de acontecimentos que escapam ao nosso apreciar e, quando observadas, nos contagiam de surpresa e encantamento pela Excelsa Perfeição.
A lagarta que se arrasta até quedar-se imóvel no casulo, sofrendo a metamorfose do tempo até alar-se em voo risonho, sob diferente aparência.
A semente esquecida ou menosprezada, aproveita a cova escura e a umidade, o calor do sol e os nutrientes do solo para se fazer grelo tenro, arrebentando em majestoso silêncio as camadas de areia para projetar-se no espaço à sua volta.
A flor que deslumbra numa manhã e a tarde torna-se um cadáver, morrendo para dentro e de si fazendo-se fruto abençoado dentro das leis da vida.
Pirilampos estelares cada noite faiscam no infinito, como a clarear a noite das almas, apontando rumos novos que se desvanecem ao clarear do dia, ocultando o seu brilho ante o triunfo do astro rei.
Nuvens escuras desabam chuvas fecundantes e torrenciais, patrocinando a enchente e a destruição, mas fecundam o solo com seus detritos, favorecendo ervas e gramíneas como tapetes ecológicos para as gerações do futuro.
A imponência do mar, ocultando em seus abismos salgados segredos que ainda não foram devassados pela audácia do ser pensante.
Os túneis e cavernas ignoradas, onde biossistemas frágeis amparam muitas vidas vegetal e animal, assegurando o equilíbrio da natureza em toda parte.
E junto de tantas maravilhas, nunca encontramos seu autor de maneira explícita. Ele parece se ocultar num perfume, foge no arco-íris ligeiro, se esconde no lírio frágil e submerge no coral deslumbrante, que as águas marinhas ocultam.
Voa nas asas da gaivota, buscando os penhascos distantes. Paira acima da cordilheira dos Andes, contemplando seus picos envoltos em neves eternas.
Está na faina incessante da abelha, amiga das flores. Compartilha o labor da formiga incansável, se fecha no cupinzeiro de bilhões de habitantes minúsculos e se faz imponente na harpia majestosa.
Se faz ouvir no silêncio e se cala no trovão.
Chora copiosamente na tempestade e medita na aridez do deserto.
Ensina paciência na preguiça que escala o tronco em movimentos suaves e escapa na ligeireza do lince ou do guepardo.
Canta pelo sabiá e se faz orquestra no uirapuru.
Veste-se de maneira deslumbrante no galo-da-serra e se oculta no pardal que ninguém prestigia.
Essa força descomunal se faz poderosa no tsunami, devastadora no furacão e suave no orvalho de cada manhã, deitado em forma de gota cristalina na corola de uma rosa.
Biólogos o definem como princípio germinativo da vida. Cientistas buscarão nas equações matemáticas localizá-lo. Físicos e químicos o encerrarão em fórmulas da tabela periódica ou sob hipóteses de forças da mecânica sem alma.
Uns dirão que é o acaso.
Outros, assegurarão que são os deuses do Olimpo.
Mas quando o raciocínio se permite uma pausa, entrando em modo inativo, o sentimento se dilata e a natureza responde em gorjeios de luz:
Deus, Deus, Deus!!
Se te sobram dúvidas, se as tuas convicções e crenças ora atravessam um período de incertezas e medo, se tuas rogativas parecem não subirem aos céus e os pesados testemunhos desabaram em tua estrada sem aviso prévio, busca estugar a louca corrida pelo ter e te recolhas à margem do caminho.
Observarás que inúmeros peregrinos também diminuíram a caminhada e refazem forças, ajuntam pedaços de si e selecionam novas estradas. Sem que possas responder de imediato, a vida vem te perguntando a um bom tempo:
- Filho da luz, de onde vens e para onde vais?
- Até aqui, que buscaste?
- Viajas só ou levas alguém contigo?
- Por onde passastes, deixastes algo de ti?
A resposta?
Deus, Deus, Deus!
Marta
Salvador, 15.12.2022