Primavera de Marta - Mensagem do dia 16.08.2022
- Casa de Jesus

- 16 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de ago. de 2022

Dificilmente se conseguirá unanimidade em torno de se definir qual seria o maior desafio da criatura humana nesse início de terceiro milênio. Vozes das mais diversas procedências se levantarão para proclamar essa ou aquela vertente ainda insolúvel para o academicismo atual, não obstante os notáveis avanços da robótica e da tecnologia de ponta.
Em pouco mais de um século o homem conseguiu feitos que milhares de anos não foram capazes de produzir. A audácia de cientistas e pensadores, físicos e biólogos, matemáticos e engenheiros conseguiram arrancar das oficinas e dos laboratórios inventos e descobertas que promoveram uma estupenda revolução na indústria e no comércio, nas ciências e nas comunicações, aproximando povos, diluindo fronteiras e dilatando horizontes jamais sonhados.
Das caravelas ao transatlântico, do sonho de Ícaro ao paraquedas, da luneta ao telescópio James Web, o salto quântico foi assombroso, impondo fundas revoluções em todas as áreas do conhecimento. Isso impactou diretamente o estilo de vida, o modo de pensar, a organização social, a própria alimentação e vestuário das criaturas humanas sofreu consideráveis alterações. Do algodão ao nylon, da seda ao plástico, do sisal ao polipropileno e demais derivados do petróleo, as mudanças e descobertas patrocinaram intensa alteração de costumes e hábitos na criatura pensante.
E fez surgir novos e preocupantes desafios.
Enquanto a ciência médica desliza em um céu de brigadeiro, cada dia portando um artefato mais potente contra enfermidades que outrora dizimavam coletividades inteiras, as atuais vacinas praticamente erradicaram da Terra diversas enfermidades cruéis. Mas nesse cenário de longevidade física, surgem os desafios da depressão e de uma sociedade neurótica e ansiosa buscando, desesperada, algo que a renova dessa inquietação íntima que devora milhões.
O medo, não obstante as certezas da atualidade, estiolam incontáveis indivíduos, que se fazem varas verdes, vergadas ao sopro frio da morte, ainda não inteiramente devassada.
Relacionamentos superficiais exibem um reflexo de uma sociedade sem metas, cheia de homens e mulheres em vulnerabilidade emocional, sedentos de afeto e compreensão, mas quase sempre sorvendo água salgada, que mais lhes abrasa a carência sem fim.
Inegável reconhecer que se o corpo conta com vasto arsenal de recursos para se manter sadio, a alma foi relegada a plano secundário, sofrendo de feridas inacessíveis ao bisturi. Conquanto os esforços das modernas correntes da psicologia, uma espessa neblina de inquietação parece turvar a luz da saúde emocional, gerando sequelas de difícil diagnóstico em tantos corações ulcerados pela falta de amor.
E nunca se falou, comentou, se escreveu e se propagandeou o amor como nos dias correntes. Está na teledramaturgia, nos filmes de Hollywood, nas novelas, como pano de fundo de livros e romances, mas no cotidiano das criaturas parece se diluir em apegos da libido, vínculos sem profundidade e relacionamentos não compensadores, tornando os seres cada instante mais carentes de afeto.
Mesmo no campo da religião, onde tantas ramificações da árvore cristã espalharam galhardas fartas, aí localizamos gravetos estéreis na presença do fanatismo de grei, na indução perniciosa à intolerância e numa teologia que insiste em ignorar a realidade do Espírito e sua interação com os cativos do corpo, após a disjunção cadavérica.
Onde o ponto de contato entre os delírios do cérebro e os clamores do coração?
Como alimentar oito bilhões de corpos sem negar nutrição emocional para igual número de aflitos por um amigo?
Homens e mulheres unem corpos, procriam filhos, carregando cada qual suas incógnitas e seus desafios existenciais.
Em meio à multidão, és alguém à cata de respostas para tuas divagações filosóficas. Tens sorvido a água do mundo, prosseguindo tua sede de compreensão e acolhimento.
Nem sempre tua constelação familiar te compreende. Esperavam uma estrela e vieste pelo berço como um meteorito errante, buscando elucidações para tuas perguntas.
Muitos livros passaram por teus olhos, deixando em tua alma cultura e saber, mas não conseguiram te asserenar as convulsões de natureza existencial.
Quando a inquietação se fizer perigosa, colocando em risco teu senso de filho de Deus, busca refúgio no silêncio e clama a Ele ajuda.
Sentirás, em meio à prece ardente, um refrigério te orvalhar a aridez de tuas planícies íntimas, te apontando um sol rutilante em meio às sombras da noite.
Constatarás que não viajas sozinho nem ao desamparo.
Tens muitos caminhantes na mesma situação.
Se desejas um sentido pra viver, ama, perdoa, trabalha e espera. Em meio ao caos, Jesus pensará tuas feridas e te fará vagalume na noite moral desses dias de tantas vidas vazias.
Marta
Salvador, 16.08.2022



