Primavera de Marta - Mensagem do dia 17.08.2022

Em um tempo e época de tamanho individualismo como o nosso, será sempre destaque aquele que opte por atender o interesse coletivo. Contrariando a maioria que adota a cultura do espelho e tem em Narciso seu modelo de vida, surgem na sociedade os arautos da beneficência e da ajuda humanitária, utilizando de seu tempo para atender e conviver com os menores de recursos.

Nem sempre estarão vinculados a essa ou aquela rama religiosa, optando por uma atividade que envolva muitos corações no ideal do bem sem rotulação ideológica de espécie alguma. Certamente que serão estes um grão de areia na colossal máquina social, onde o fantasma da fome, a marginalização do trabalho e o desamparo no campo da saúde, da educação e da segurança pública criam imensos abismos e grotões de miséria e revolta, ensejando que de dentro dessa massa de desassistidos brotem trânsfugas e rebeldes, facínoras e equivocados, turbando de algum modo a paz social.

E o Estado responderá com mobilização de forças armadas, treinadas e equipadas para o confronto violento, criando um circuito perigoso onde a repressão acaba por se tornar uma ferramenta da política de contenção dos que cobram seus direitos.

Toda sociedade já atravessou ou ainda atravessa esse cenário, onde parece que a luz no fim do túnel foi apagada, lançando todos na completa escuridão.

Entretanto, singelas reflexões podem nos levar a conclusões óbvias. Diante de uma comunidade que paga impostos e tributos diversos, é de se aguardar que essa colossal montanha de dinheiro retorne em forma de políticas públicas que dignifiquem a cidadania que cumpre deveres. Ações e projetos na área infanto-juvenil previnem uma mocidade cooptada pelo crime organizado. Escolas bem equipadas e mestres dignamente remunerados atuam em conjunto para que a instrução eleve o espírito público, facultando o surgimento de uma sociedade justa e equilibrada. Uma estrutura de saúde bem montada permite que se previnam as ocorrências de épocas de surto ou epidemias, diminuindo a mortandade de centenas ou milhares de pessoas.

Rodovias bem cuidadas e uma estrutura adequada de portos e aeroportos, estações de trens e transportes coletivos transpiram um cuidado do gestor para com o semelhante, criando um clima de segurança e bem-estar em quase todos.

Quando inexistentes ou deficitárias, é de se imaginar e conceber que o cidadão sob desamparo passe a subverter a ordem, articulando mecanismos ao arrepio da lei para garantir a própria sobrevivência. E tais condutas podem acabar por colidir com os interesses gerais, disseminando a cultura da subversão e da afronta ao interesse da maioria.

Numa sociedade em que todos exigem somente direitos, onde ficam os deveres?

Se toda a tribo pleitear a condição de pajé ou cacique, quem velará pela segurança da taba?

Se numa caserna todos estiverem investidos das prerrogativas do oficialato, quem cumprirá os deveres do praça?

A gradação cria segurança.

A hierarquia estabelece disciplina.

O direto conquistado impõe deveres correspondentes.

A prestação de contas em qualquer setor da vida pública é decorrência natural de quem assume livremente funções na condução de muitas vidas.

Ele nunca ocupou cargos na história política de Israel. Esteve sempre à margem de César e respeitou as decisões do sinédrio de Jerusalém. Trazendo do Pai uma mensagem de elevado teor para o mundo, nunca se impôs perante qualquer consciência que O seguia.

Ofertou pequenas alegrias em momentos marcantes de Seu messianato junto aos simples e oprimidos, como em Caná e na multiplicação de pães e peixes para os esfaimados. Reabilitou entrevados, restaurou pupilas mortas e eliminou espiroquetas e bacilos de muitos, num tempo que se desconhecia completamente a fauna microbiana.

Se fez orientador de vidas perdidas e vazias.

Lecionou com parábolas e metáforas ensinos valiosos para quem desejava encontrar a verdade.

Não armou milícias contra Roma.

Não articulou na calada da noite a tomada do poder pela força.

Sua vida era invariavelmente pública. Suas orações e dores eram experimentadas em soledade com o Pai.

Fez-se paradigma inesquecível.

Tornou-se modelo e guia de milhões, hoje bilhões.

Em te faltando alguém que O reflita nessa atualidade que te aturde, onde maus exemplos são aplaudidos e a hipocrisia parece triunfar num cenário de faz de conta, não abandone tua decisão de imitá-Lo, mesmo pagando alto preço junto aos indiferentes e arrogantes.

Permanece fiel aos deveres e em tempo certo a Divindade te outorgará os direitos que te competem.

Do mundo, não aguardes aquilo que o mundo não tem para te dar.

Marta

Salvador, 17.08.2022