Após o surgimento do Cristianismo na Galiléia, cujos princípios foram ministrados e vividos por Jesus, inúmeras vertentes foram aparecendo no mundo como frutos das interpretações de apaixonados discípulos. Do catolicismo romano até às variantes do pensamento luterano, muitos pensadores e teólogos enxertaram na árvore cristã seus próprios ramos, inoculando estranhas idéias. E o profetismo de outrora perdeu grande parte de seu significado para se tornar um simples jogo de palpites e achismos, onde a letra que mata substituiu o espírito que vivifica e a intolerância religiosa passou a ditar normas de condutas, criando medo e tensão nos adeptos.
A doutrina de Jesus sempre foi e é alicerçada no amor, e esse sentimento é profundamente libertador na sua essência. Onde o amor escravize ou asfixie, não será ele, mas sim seu cover infeliz, a paixão perturbadora e doentia.
As lições do Divino Amigo são sempre portadoras de diretrizes de otimismo e coragem, emulando o ser a que se liberte de injunções perversas, olvide o passado de sombras e se projete, venturoso e alegre, nas trilhas da mudança que o aguardam para o amanhã promissor.
Não intenta nem gasta sua energia na mudança do outro. Muda-se.
Enxerga a rosa e o espinho, apreciando esta e adotando cautela na manipulação do segundo.
Transita no mundo como se este lhe pertencesse e ao mesmo tempo se sabe despossuído de qualquer coisa que seja material, transitório.
Torna-se simples como o algodão nativo e firme como a espada nua.
Nunca se impõe sobre os outros, tiranizando vidas e se fazendo falso profeta, anunciador de augúrios destrutivos. Aceita da vida, com resignação, as ocorrências que lhe são contrárias, as incorporando como lições que cabe administrar, e altera aquelas que pode e deve, as tornando alavancas para as plataformas do sumo bem.
Não gasta seu tempo no ócio improdutivo nem na crítica desabrida. Ministra a palavra onde essa edifica e silencia onde sua atitude fale mais que as palavras.
Se alguém pede um roteiro, indica o trabalho e a solidariedade como mapas da estrada e não vaticina tragédias, onde a dor já fez semeadura difícil nas almas machucadas.
O cristão, onde chega, espalha esperança e bom ânimo, dilatando o otimismo e a fé.
Se sabe um exilado em uma terra estrangeira, e tanto quanto possível, tenta falar o idioma dos fatos e da realidade da vida, inoculando luz e bondade naqueles que perderam a vontade de viver.
Ora quando pode, arando sempre na própria gleba.
Não se impõe, nem constrange pessoa alguma para que lhe aceite as idéias e ideologia. Acata cada um como cada um é, a si mesmo impondo-se o dever de ser melhor hoje do que ontem e amanhã melhor do que hoje.
Mesmo adulto, não esmaga nem deixa de cultivar a criança que lhe vai na alma sonhadora.
Idealiza, mas realiza.
Chora, mas atende a dor alheia sorridente.
Não condena. Ensina e educa.
Se é atacado, perdoa e avança.
Convivendo com pervertidos e pusilânimes, aceita que nem todos podem ainda enxergar a vida como ela é, cativos que são de suas ilusões e pesadelos íntimos.
Observando que nem sempre será compreendido nas boas intenções que carrega, permanece tranquilo e sereno na semeadura do bem, sem qualquer revolta ou azedume quando constata que outros pisotearam seu jardim de esperanças.
Recomeça cada atividade com o mesmo entusiasmo da véspera.
E quando percebe que a tarefa chegou ao fim, esteja ela realizada ou inacabada, agradece a bênção do serviço, repousa das fadigas no traslado de volta ao país da luz e como um servidor atento ao chamado do Mestre a quem serve, na alva do novo dia, se coloca de pé novamente, aguardando em clima de paz e harmonia as novas tarefas com Ele e por Ele.
Para o servidor fiel, as horas de descanso são sempre escassas e faz do seu cansaço rede onde outros se refazem das lutas evolutivas.
Com Jesus, esse é o caminho da própria redenção.
Marta
Salvador, 17.11.2021