Breve olhar sobre a trajetória humana no mundo nos ofertaria volumoso material para as mais santas meditações. Engalanado no pináculo das conquistas científicas, o homem contempla o domínio da Terra e por toda parte seus tentáculos falam das glórias do cérebro.
Meios de comunicação eficazes e velozes. Virtualidade de ponta. Domínio do átomo na maior parte de seus segredos. Voos além das estrelas, devassando outros mundos.
Entretanto, de maneira silenciosa, melancólica, o planeta exibe feridas de demorada cicatrização.
Rios e mares em poluição avassaladora, ameaçando a vida no orbe. Multidões esmagadas pela ansiedade crescente e depressão destruidora. Lutas intermináveis pela sobrevivência fazem do ser humano lobo, esfaimado numa sociedade cada dia mais competitiva, que o desumaniza de embate a embate.
Lê os clássicos da história e se atrofia na viciação dos sentidos. Diz amar a música clássica e se permite o estupro dos tímpanos na agressão sonora de nosso tempo. Exalta a solidariedade e os gestos nobres das grandes almas, mas se esquiva de ser protagonista do próprio bem, temendo perder lugar na ribalta das vaidades corriqueiras.
E enquanto corre e se desgasta na conquista de bens impermanentes, dilapida e exaure as reservas terrestres, atendendo caprichos inconfessáveis, não observa a riqueza oculta da existência.
Um amigo que sempre nos sorriu e jamais negou apoio nas horas difíceis.
Os amanheceres poéticos e os entardeceres risonhos.
A abundância da água, o pão que saiu do trigo desconhecido e o algodão que brotou no cerrado, se fazendo fio para nos tecer o vestuário.
Quantas bênçãos em derredor de nossos passos!
E quando as aflições da vida surgiram por alavancas do progresso e da evolução, a Divindade nunca nos impediu o acesso à oração refazente e ao refrigério das lágrimas, nos apontando rumos novos.
Em todo lugar paira a bênção de Deus.
Em cada alma um sonho.
Em cada olhar uma esperança.
Certamente que o planeta ainda não é o jardim do Éden por todos almejado, onde a corça paste ao lado da leoa e o sapo divida em harmonia o brejo com a serpente, mas jamais o Senhor nos daria o quinhão das lutas evolutivas sem nos ofertar as condições para enfrentá-las e superá-las.
Pessoa alguma deserdada da Misericórdia Excelsa.
Ocorre que a seara permanece vasta, infinita, mas os ceifeiros são escassos. O chamamento do bom pastor continua há dois mil anos, convocando cada ovelha a que retorne à segurança do aprisco, mas muitas estão fascinadas com o uivo dos coiotes rapaces.
Quais moscas, voam, sedentas, em busca do lixão do mundo, à cata de detritos em putrefação, deixando de imitar a abelha operosa, que voa intensivamente atrás do jardim, onde localiza as flores para a coleta do pólen e do néctar. Com o primeiro, polinizam outras flores, e com o segundo fabricam o mel silvestre.
Sofres? Persevera.
Sonhos viraram pesadelos? Ama, mesmo assim.
Amores te viraram as costas? Prossegue caminhando e avançando na estrada que te é própria.
Te distorceram as palavras? Ignora o estorvo do irmão em crise existencial, sorri com ternura e dá um passo adiante.
Vieste servir a César ou Jesus?
A escola planetária se te afigura uma colônia de férias ou uma escola regeneradora das almas obtusas?
Enxergas na dor uma mestra paciente, que repete a mesma lição mil vezes até ser acrisolada ou um acúleo de injustiça que te assaltou a serenidade de viver?
Conforme teu olhar, cada situação tem ângulos diferentes.
Entretanto, sorrindo ou chorando, caindo ou de pé, alegre ou triste, aqui estamos todos juntos para o que der e vier.
Sigamos! O dia já raiou.
Marta
Salvador, 21.11.2021
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