De tanto ouvir falar de estrelas, saíste pelo mundo buscando identificá-las e catalogá-las.
Os observatórios te abriram janelas para o infinito e te deslumbrastes, em observando as mais fascinantes e grandiosas.
Altair, Beltegeuse, Sirius, Alcíone.
Foi quando, de certa forma saciado com essa investigação, resolvestes por deambular no mundo, buscando as estrelas a que muita gente se atribui ser.
As de cinema, que brilham hoje e se apagam amanhã.
As do futebol, que após atingirem o auge da carreira, penduram as chuteiras e vão viver do passado.
Estrelas da política, que arrastam multidões de seguidores e são apagados pela oposição, que logo em seguida igualmente esmaecem as próprias luzes.
Em uma época de paradoxos, brilho ligeiro, fogo-fátuo de incertezas e superfícies reluzentes, tudo quanto bem polido por fora tende a ofuscar num instante para tornar-se opaco com as crises de valores que ora respondem por milhões de pessoas em paroxismos.
O investimento pesado na aparência, nas circunstâncias, permite que o ser se destaque nos céus da fama passageira e do prestígio ilusório, que a enfermidade corrói e a morte ceifa, de maneira impiedosa.
Desfilaram, ante teus olhos assombrados, incontáveis vidas cuja tensão não suportou o assédio, a bajulação, a hipocrisia.
Caíram e arrastaram outros invigilantes.
Uma certa amargura insinuou-se em teu coração sensível, te fazendo pensar nos faustos enganosos, na impermanência de tudo.
Foi quando buscaste uma praia, àquela hora, deserta e convidativa às demoradas reflexões. E bem ao longe, onde o mar, agora de águas escuras pelo crepúsculo da tarde, se casava com o poente, ainda com rasgos das últimas fímbrias do sol da quase noite. E aos teus olhos surgiu uma estrela de diferente brilho. Majestosa, se posicionava no zimbório escuro, incidindo seus raios azuis sobre o planeta em rodopio pelo infinito.
Foi quando alguém chegou próximo a ti e afirmou ser a estrela do Natal.
Teu coração bateu descompassado.
Tua respiração se fez profunda e teus olhos não conseguiram segurar a torrente de lágrimas que desceu, cristalina e espontânea.
Naquela noite sublime, em algum lugar do campo, o Filho do Homem se despia da túnica de luz e fazia parecido conosco.
Mergulhava nos tecidos orgânicos para nos ensinar a verdade, nos socorrendo nas aflições.
Sua maternidade nunca mais foi esquecida.
A ninguém ofuscou com sua superioridade moral e a quem atendeu buscou ensinar o caminho para as estrelas.
Era hora do ângelus. Cheguei de mansinho e me sentei ao teu lado para juntos tecermos uma prece à Maria de Nazaré, a rosa mística da Judéia.
Ficamos em êxtase por algumas horas, até que a brisa fresca do oceano nos despertou para novos compromissos.
Jesus permanece um homem admirável, me disseste em incontida emoção. Não pude te responder por causa da súbita emoção, que igualmente me arrebatara a alma.
Só Ele, estrela de primeira grandeza.
Sigamos! O brilho desse astro incomum aponta a estrada. Preciso é caminhar.
Marta
Salvador, 22.11.2022