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Primavera de Marta - Mensagem do dia 23.09.2022


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Mãezinha querida, ante a proximidade do Natal, recordei teu semblante tranquilo e volvi em recordações ao lar de outrora.


Teus arranjos de flores na janela de nossa casinha modesta.

Teus quadros de Jesus e Maria, pendurados na sala, como cartões de boas-vindas aos visitantes de nosso lar.


Tua cristaleira simples, guardando com zelo as modestas louças de nossa cozinha.

Teu varal cheio de roupas na varanda.

Tua roseira preferida na frente da casa, perfumando as nossas manhãs.


Logo cedo, antes de todos acordarem, tuas mãos incansáveis na cozinha, rente ao fogo de lenha e carvão, buscando fazer o café e o cuscuz, esquentar o pão dormido e alguns ovos, quando a fartura nos visitava.


Teu pote sustentado numa pedra, coberto por tampa larga, ocultando a linfa de que nos servíamos para matar a sede.


A toalha bordada da mesa, que tuas mãos na costura do final de tarde tornara um lindo enfeite.


E quando o Natal chegava, mesmo sabendo que não teríamos ceia farta ou qualquer guloseima cara, teus olhos de júbilo pela alegria antecipada.


Uma bandeirola no teto da sala singela. Uma guirlanda improvisada na porta de madeira sem pintura.


Um lembrete qualquer em cima da mesa.

E na véspera da data magna, em tendo condições, confeccionavas um bolo, que seria nossa oferta ao menino Jesus.


Mãezinha, hoje não sei dizer, me voltaram essas lembranças! Exumei recordações dos meus porões afetivos, e tua presença na harpa da saudade me tangeu as cordas do coração.


Perdi por instantes o ar de mulher madura e me vi outra vez a menina em teu colo.

Teus cuidados com meus vestidos usados.

Tua higiene na moradia que tínhamos na conta de um palácio. E tudo isso porque eras a nossa rainha.


Onde tuas mãos tocavam, uma alegria se estabelecia.


Fazias de nossa pobreza material uma lição de humildade.


Mesmo quando te surpreendi em lágrimas na varanda, tinhas sempre uma nota de amor no corpo cansado das labutas diárias.


E cada época natalina tinha sempre teu toque de encanto, e aquele menino da manjedoura passou a ter novo significado em nossas vidas miúdas.


Recordo a infância mais recuada, quando na noite tempestuosa, uniste minhas mãos na prece do Pai Nosso...


Em teu colo encontrávamos refúgio e segurança ante os trovões que rugiam acima das telhas. E na manhã seguinte, éramos os teus pintinhos, buscando os campos molhados e a terra reverdecida.


Hoje, desfilam estas cenas por minha memória.


Teu quarto em silêncio, a sala vazia, o jardim sem flores e a mesa deserta.


Tua ausência física provoca uma sensação de incômodo. Saio à varanda, quem sabe te buscando além da janela. E, nas vastidões dos campos, não consigo enxergar teu vulto, regressando para nosso lar, trazendo nas mãos uma braçada de flores.


Mãezinha, perdoa se não fui a filha que deveria ter sido. Olvida em teu amor minha indiferença daqueles dias.


Ajuda-me a não te apagar da memória mais querida.


Por mais que o tempo passe, que a tecnologia nos insensibilize, a convivência contigo permanece como meu maior tesouro na vida.


Em faltando tão pouco tempo para o Natal, me deixo arrebatar pela saudade de tuas carícias, teu afeto de mãe zelosa e tua fibra de mulher incomparável.


Bem sei que os tempos são outros.

Os dias se fazem roldanas que homem algum pode deter.


O relógio nunca parou para atender nossos caprichos.


E tua ausência agora tem outro sentido, mais dolorido.


Mãezinha, onde estiveres, pede a Jesus para regressar outra vez à casinha que foi nosso castelo. Vem novamente encher de alegria aquela sala pequena.


Erguer no pé da parede a árvore natalina, enfeitada com aquelas bolas desbotadas.

Posso esperar a senhora na véspera do Natal?


Os dias estão difíceis, as notícias trágicas nos devoram e o medo assalta muitos corações, e bem sei que quando uma mãe ora, intercedendo pelos filhos, ela consegue arrebentar as portas do céu.


Grande é a misericórdia de Deus.

Infinito é o amor de Jesus.

Indecifrável o coração de uma mulher quando se faz mãe.


Não tenciono fazer carta longa, mas encerro minha súplica num formato de prece: mãezinha, se o menino da manjedoura permitir, vem outra vez nos acalentar na noite de Natal e me faz criança uma vez mais em teus braços!


Onde estiveres, Deus te ilumine e te faça uma estrela nos céus da minha saudade.


Marta

Salvador, 23.09.2022


 
 
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