De Cláudio Ptolomeu a Nicolau Copérnico, de Praxiteles a Da Vinci, de Fídias a Michelangelo, de Hipócrates a Sabin, um vastíssimo corredor histórico foi percorrido pela ânsia humana de conquistar o domínio da matéria.
As avançadas concepções dos pré-socráticos, como Leucipo e Demócrito, complementando Tales de Mileto, descortinaram um mundo de partículas, que somente dezenas de séculos depois seria comprovada por demoradas investigações por parte de gênios da física e da química, do quilate de Robert Boyle, John Locke, Mendeleev, Rutherford e outros.
Os séculos XIX e XX consolidaram essas conquistas do pensamento e a tecnologia, em desdobramento vertiginoso, proporcionaram ferramentas cada vez mais refinadas para a devassagem do infinitamente pequeno, através do microscópio, e o olhar se dilatou para os berçários estelares, através de supertelescópios instalados na Terra até os recentes engenhos do porte do Hubble e do James Webb, situados a milhares de quilômetros da superfície terrestre.
Sem negar ou esconder tamanha grandeza da sagacidade e da curiosidade do homem, enquanto tenta tocar as estrelas ou auscultar o mundo invisível ao olhar, as pandemias periódicas ceifaram milhões de vidas, a fome produziu outros tantos cadáveres e as guerras impuseram lágrimas e dor ao planeta inteiro, em hediondez indescritível.
O despertamento do ser para as questões da transcendência e da imortalidade lhe estão chegando a duras penas, manipuladas por forças naturais que o constrangem a uma inadiável viagem para dentro de seu íntimo, buscando as reais razões para que existe. A impermanência de tudo gera-lhe uma inquietação nunca domada, pois que quando triunfa na ribalta do mundo, a meirinha impiedosa ceifa-lhe a existência precária, o conduzindo ao nada, na concepção materialista, ou a estados estanques pós sepulcro, onde carpe seus erros em uma condenação eterna ou se vê premiado num paraíso de inutilidade contemplativa.
Lança-se nas religiões que criou, tentando não fazer-se divino, mas buscando desesperadamente humanizar a divindade para que esta experimente as mesmas dificuldades que enfrenta no seu quase absoluto desconhecimento de si mesmo.
E quando os sinais da grande transição se apresentam em todos os setores da vida moderna, eis um panorama que inspira compaixão e misericórdia por parte das forças espirituais que regem o orbe em transformação compulsória.
Missionários da ciência descem das esferas luminosas e tomam forma carnal para apontarem rumos novos. Artistas da velha Grécia e do período Renascentista acolhem a invitação do Cristo e retornam aos caminhos já perlustrados um dia, renovando o pensamento e inspirando o belo, o estético, o ético.
A filosofia começa a ganhar novos contornos, apontando que não basta saber. É preciso sentir.
Cérebro sem rédeas morais torna-se um tirano, destruindo vidas e arquitetando paranóias de dominação, incapaz do próprio domínio. Faz-se imprescindível unir o núcleo que elucubra com a fonte dos sentimentos, criando esperanças no lugar do desamor, fé substituindo a crença cega, a solidariedade estendendo pontes onde o egoísmo ergueu abismos, e os cenários edificados pela empáfia humana vão se desidratando a cada dia, deixando seus escombros como entulho para que uma nova geração, comprometida com a felicidade e a ecologia, a harmonia dos elementos e o pluralismo possa triunfar onde o preconceito estendeu tentáculos de ignorância e crueldade.
Tempos novos. Novos tempos.
Ninguém deserdado, pessoa alguma dispensada, mas o livre arbítrio, respeitado. Teremos sempre aqueles que lutarão pelo seu status, erguerão armas para defender o que julgam seu, aliciarão milicianos para a derrubada ou travamento da nova ordem mundial.
Pobres cegos da alma, que o vendaval das forças divinas arrastarão para mundos inferiores! Ali situados como aprendizes rebeldes, lidarão com forças contrárias intensas, que lhes renovará a concepção de vida.
Os dóceis e mansos, conforme a Divina Palavra, herdarão a Terra, lhes alterando paulatinamente as instituições, ainda maculadas pelas nódoas de uma visão estreita e materialista.
Estás situado no olho do furacão. Mudanças diárias te inquietam. Alterações políticas te desnorteiam. Temes o desabastecimento, a insegurança alimentar, a falta de assistência médica, a escassez de coisas.
Volve teu olhar a esses bandos de pardais. Despertam cantando hosanas ao Senhor e se recolhem aos galhos das árvores no final da tarde. Todos os dias são alimentados pelos Celestes Reservatórios.
Os lírios do campo nascem no charco ou brotam dos pântanos, e sua beleza empalidece qualquer passarela da moda.
A gramínea verde estende tapetes no solo seco, assim que a chuva deita algum orvalho, e a roseira ressurge, exuberante, no aparente graveto estéril, espalhando delicioso perfume.
Quem vale mais para Deus: tu, glória da Mente Suprema ou o pardal, que começa seu périplo no canto até que mais tarde atinja a complexidade da palavra?
Confia e serve!
Ajuda e passa!
Ora e ara!
Se desejas ajudar Jesus nesse momento crítico, opta pela aceitação das diretrizes D'Ele em teu mundo íntimo, e se o externo não te compreender, prossegue mesmo assim.
A essência do Divino Amigo não cai em vasos errados.
Marta
Salvador, 24.07.2022