Primavera de Marta - Mensagem do dia 26.10.2022
- Casa de Jesus

- 26 de out. de 2022
- 3 min de leitura

Se a vida se resumisse a um álbum, teríamos um acervo muito grande de fotografias para examinar.
Desde a mais tenra idade até esse período da vida adulta, as existências passaram por etapas diversas, onde erros e acertos, perdas e conquistas, sucesso e fracasso, risos e lágrimas sucederam-se no caleidoscópio de nossas emoções.
A infância maltratada ou alegre, deixando marcas no adulto de agora.
A adolescência cheia de desafios e percalços, onde amarguras e desencantos dividiram espaços mentais com o júbilo e as intensas transformações da maturidade, sob imposição do tempo e da convivência.
Sonhos que hoje cogitamos que seriam pesadelos se se tornassem realidade. Projetos que correram toda a pista da expectativa e não conseguiram decolar, gerando frustração e desencanto.
Amores, quantos chegaram e quantos partiram? Em meio à nuvem de ventura a dois, as decepções e os momentos mágicos na troca de ternura com o ser amado. Hoje, fotos coloridas de um passado bom ou uma 3x4 de um pretérito que não conseguimos deletar.
Sim, o que somos hoje é fruto direto dessas experiências acumuladas, que o tempo amontoa no depósito da memória, com link para o quartinho das emoções. De algumas, desejaríamos nos ver livres, alijando da intimidade marcas e negativos que nos deprimem no agora. Outras, são slides e quadros que periodicamente retornam no porta retrato da imaginação criativa, momentos que gostaríamos de reviver.
Nesse acervo de intensas recordações, se agita o ser na busca de sua identidade. Violentado por uma sociedade consumista, que quase não lhe oferta pausa para o cultivo de sua espiritualidade, homens e mulheres trafegam na selva de pedra em constante atrito de interesses, incompatibilidade de gênios, diferenças que não se ajustam e zonas de curto-circuito.
Nem sempre as aspirações de um estão similares às do outro. O idílio afetivo começa a fazer água quando os anseios não se ajustam, as buscas se fazem desiguais e projetos pessoais não evoluem para compartilhamento.
O ninho doméstico padece, no tempo presente, do diálogo entre duas almas que em algum momento desejaram permutar a construção da família, atendendo interesses próprios, mas a convivência entre quatro paredes revelou mundos opostos, caminhos conflitantes, interesses antagônicos. Máscaras de conveniência caíram após o fim do namoro e início do consórcio matrimonial, revelando a verdade face de cada um. Diversos relacionamentos tiveram início em sites de buscas afetivas, onde um ou ambos os protagonistas fizeram alterações significativas em fotos e perfis, estampando não quem era, mas sim quem desejaria ser. Alguém, do outro lado da tela se interessou, ignorando a manipulação da verdadeira imagem e buscou contato presencial.
Tomou um choque.
O real era bem diferente do virtual.
Acrescentou mais uma foto distorcida ao seu álbum da vida.
Ainda carregamos a criança frustrada de ontem, o adolescente castrado pela educação puritana, a ausência de diálogo na família e o uso de expedientes violentos da suposta educação dos filhos.
Alguns pais bateram ou batem nos descendentes não para corrigi-los, mas para dar vazão aos seus estados de frustração e traumas do ontem.
Sofreram. E fazem sofrer.
Apanharam de genitores desequilibrados. Hoje, são igualmente neurastênicos.
E numa sociedade que passou a privilegiar o virtual em detrimento do presencial, os diálogos saudáveis, as conversas ricas de ternura, a permuta de experiências entre pais e filhos, namorados e parceiros, vêm sendo substituídas por compensações de natureza sexual, a fim de diminuir essa agonia, esse estresse que assalta de maneira impiedosa a atual civilização terrestre.
Corpos sarados. Almas destroçadas.
Roupas impecáveis. Conteúdo em farrapos.
Academias lotadas de homens e mulheres em busca da perfeição corporal. Por dentro, as incertezas desgastantes, as carências não superadas, o vazio existencial, as contínuas frustrações que os equipamentos sofisticados não conseguem diluir.
E aquele álbum que periodicamente abre sua tampa e exibe tempos vencidos, onde ruína e glória se mostram em retalhos de cada um.
O ser humano precisa de uma razão para viver. A existência tem que ter um objetivo que não seja tão somente atender a libido, triunfar nos palcos da fama ou conquistar a ilha do tesouro.
Tudo isso somado não torna a matemática existencial uma equação bem resolvida.
Nada substitui um momento de oração. Uma música inesquecível que a memória auditiva guardou no disco sensível da alma. Uma reunião de família que ficou eternizada na lembrança. A reaproximação com um desafeto e o fim da animosidade gratuita. O abraço com aquele parente que nos movia hostilidade sem motivo aparente.
Tiveste até aqui uma larga existência. E é possível que ainda venhas a caminhar muitos anos no corpo. Quantos filmes, quantas fotografias serão acrescidas ao teu álbum pessoal?
Lembra-te D'Ele.
Carrega contigo um retrato desse homem incomum e admirável. E quando tuas desilusões se fizerem de difícil digestão, teus sonhos virarem pesadelos e teu amanhã tarde a chegar, esmagado por uma madrugada sem fim, recorre a Ele em oração, escutando novamente a sublime promessa:
- Vinde a mim, todos vós, cansados, oprimidos, sobrecarregados. Eu vos aliviarei! Leve é meu fardo, suave meu jugo.
Sê tu o ramo verde. E Jesus a seiva farta que te nutre a alma cansada de pelejas ingratas.
Marta
Juazeiro, 26.10.2022



