Majestosa esfera, sob dúlcida emoção, te contemplei das alturas! Teus polos gelados, alvos como o mármore de Carrara. Teus desertos, pardos como as manchas de leite e teus oceanos, profundos e vastos, azuis como o cintilar das estrelas!
Dominado por um sentimento profundo de gratidão, visitei tuas cadeias majestosas de montanhas. Os Andes desfilaram diante de meus olhos, deslumbrados. Teu Himalaia me arrebatou o coração, que tornei genuflexo diante dos picos gelados de neves perenais. O Cáucaso e suas cordilheiras graníticas me arrebataram a alma agradecida.
Visitei tuas florestas.
A Amazônia majestosa, a perder-se de vista num colossal verde escuro. As savanas africanas do vale do Okavango, onde a vida animal palpita em profusão admirável. Os cedros do Líbano, as florestas de araucárias, a tundra gelada da Sibéria e as insondáveis matas de Papua Nova Guiné.
Ó, encantadora bailarina, que voluteia no infinito, conduzindo teus bilhões de filhos! Em teu berço maternal, renasci muitas vezes e em tuas necrópoles repousei outras tantas!
Bebi tuas águas no Ganges, naveguei nas águas mansas do Nilo, contemplei o poente de fogo no Tigre e no Eufrates e desci as correntes poderosas do Mississipi mais de uma vez.
Colhi teus frutos abençoados nos vinhedos da Grécia ou dos Flandres, as terras baixas da Holanda ou nos canais inundados de Veneza. Percorri, sorridente qual criança feliz, as terras ubérrimas da Úmbria e orei na capelinha de Assis.
Em êxtase, visitei o Louvre e a abadia de Westminster, a praça de São Pedro e a capela Sistina. Jerusalém me devolveu aos cenários da antiga Israel e pude escutar, outra vez, o canto do menestrel de Deus.
Neguev, o Saara e o Atacama me extasiaram a alma em prece de gratidão.
Que fiz por ti, minha formosa donzela?
Devorei teus frutos, sorvi tuas águas doces e quase sempre esqueci o culto da gratidão por tua silenciosa generosidade!
Li tua história de bilhões de anos. Anotei tua circunferência e ouvi falar de teu oceano de oxigênio, que nos vivifica os corpos precários.
Teus amanheceres poéticos.
Teus poentes de fogo.
Tua aurora boreal.
Teus vulcões ardentes.
Tuas crateras insondáveis.
E de nada tu reclamas!
Te envenenamos o solo, e nos respondes com trigais abundantes e milharais fartos.
Contaminamos tuas águas e nos alimentas com teus peixes.
Derrubamos tuas árvores seculares e nos forras o chão com o tapete de mil flores.
Teu ar está cheio de gases venenosos que engendramos para triunfo do ego.
Tuas veias estão cobertas de manta asfáltica, te sufocando as entranhas.
Ó, Terra, mãe generosa e gentil, apiada-te de nossa loucura! Tem compaixão de nossa miséria, individual e coletiva!
Ensina-nos a cuidar de ti!
Que possamos pisar teu solo sem te machucar, porque na aparência com que nos vestimos, somos apenas pó e nada mais.
Como tarda esse primado do Espírito!
Até quando nos postaremos indiferentes para com tuas convulsões, teu grito por socorro e teus espasmos tectônicos?
Tua chuva são tuas lágrimas.
Teus verões tórridos são reflexos de tua febre.
Teus flagelos são teus apelos desesperados ao reequilíbrio térmico.
Terra, morada divina de nossas lutas milenares!
Berçário de nossos amores e sepulcro de nossas ilusões.
Bendita sejas, morada excelsa que o Sempiterno Criador nos deu para evoluir nas trilhas do infinito amor.
Deste a Ele Belém por berço e Jerusalém por despedida. E hoje O temos, redivivo entre os imortais, cantando outra vez o Sermão que nunca se cala.
Seu amor nos abrasa.
E sem amor, impossível avançar!
Pelo que nos destes e pelo que nos dás, muito obrigado, Senhor!
Rubens Romanelli e Marta
Salvador, 28.06.2022