Um estudo sobre a história humana na Terra dificilmente poderá negar suas estreitas relações com as armas. Desde as eras mais primitivas, das narrativas reais ou lendárias, passando pelos mitos e heróis da mitologia, assinalaremos sempre o uso de artefatos defensivos e de ataque.
Clavas de madeira, ossos de grandes animais abatidos para consumo e pedras bem polidas, atadas a cabos desbastados, garantiram aos nossos ancestrais habitantes das vastidões do neolítico e da idade dos metais condições de se defenderem da hostilidade do período.
A organização tribal, o surgimento das primeiras comunidades impuseram a elaboração de milícias que vigiassem o perímetro de caça e pesca, protegendo rebanhos e reservas de água em regiões áridas. A domesticação dos primeiros muares deu um salto de qualidade na arte da guerra, surgindo os primórdios da cavalaria.
Lanças e flechas, punhais e cimitarras afiadas foram devidamente trabalhadas pelo fogo dos primeiros ferreiros, que aprimoraram as armas de então.
Mais tarde, a descoberta da pólvora na China, fez surgirem os artefatos que poderiam ser disparados de grande distância, poupando vidas militares, e desta a evolução para os instrumentos de guerras mais sofisticados foi um pulo.
Canhões, catapultas, espingardas de repetição, bombas de fragmentação tem na pólvora, mistura de salitre, carvão e enxofre sua composição básica, de alto poder de combustão.
Desde a guerra franco-prussiana, de 1870, avançando até a segunda grande guerra (1939/1945), a engenharia militar se desenvolveu enormemente, municiando os inúmeros exércitos da Terra com armas de destruição em massa, cada vez mais refinadas na arte de eliminar adversários.
Parte da belicosidade do homem das cavernas ainda subsiste no ser dos arranha-céus. Temendo ser exterminado, ele se arma contra o outro, tornando-se potencial exterminador.
Mesmo cursando as linhas religiosas e filosóficas de inúmeras escolas de pensamento, nunca perdeu seu instinto de conservação, dele fazendo escudo na defesa de território, insumos e ideologias arbitrárias.
Está em curso na Terra uma nova corrida armamentista. Desde os anos 80 do século passado, quando se cogitou a construção de armas "nas estrelas", diversos países investiram no desenvolvimento de uma tecnologia que possibilite a instalação de artefatos de destruição fora da atmosfera terrestre, permitindo uma resposta fulminante e devastadora contra nações potencialmente inimigas.
Enquanto isso...
Comenta-se a crise mundial de alimentos. Destaca-se a existência de milhões de refugiados. Incontáveis famílias jornadeiam sem um lar onde possam se abrigar. O transporte público não consegue dar conta da demanda cada vez mais exigente das massas trabalhadoras em deslocamento para os pontos de serviço.
As despesas com forças armadas são infinitamente superiores com aquelas destinadas a escolas, creches e postos de saúde.
O receio da bomba que vai cair do céu paira em muitos lugares.
O drone equipado de sofisticados instrumentos de filmagem e mísseis de precisão cirúrgica, estacionado a grande altura, escolhendo quem vai deixar de existir.
Parecerá narrativa de ficção científica ou de filme de suspense, onde o agente 007 luta contra os inimigos da rainha, buscando salvar a Inglaterra ou o resto do mundo, mas são simples retalhos do cotidiano.
A maior arma do cristão é sua fé lúcida na vida futura. Seu escudo é sua consciência tranquila.
Seu instrumento de convencimento são seus atos, mais valiosos que as palavras.
Em considerando que Jesus Cristo foi vítima de uma prisão absurda e injusta, açoitado por instrumentos de tortura os mais variados e foi içado num madeiro de vergonha e desonra, sem nunca ter possuído ou levantado uma arma contra quem quer que seja, é de estranhar que muitos que se digam cristãos defendam abertamente o livre e irrestrito acesso da população civil às armas.
Mil vezes ser a vítima, nunca o algoz!
Padecer o ataque e não ser o atacante.
Ainda vai custar compreender a flor vencendo o canhão e a pomba da paz librando nos céus no lugar do drone.
Até lá, exercita-te na arte de amar, em vez de armar-se.
A paz não necessita de nós, mas temos urgente necessidade da paz por dentro e por fora.
Marta
Salvador, 28.11.2022
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