Utilizada como instrumento de flagelação e punição a criminosos vulgares, a cruz tornou-se símbolo universal com Jesus Cristo.
Manejada por civilizações anteriores aos romanos, como egípcios e gregos, atribui-se aos persas sua criação por volta de 330 a.C., sendo posteriormente trazida para Roma, quando passou a ser largamente utilizada para empalamento de adversários e escarmento de criminosos vulgares, criando temor nas populações dominadas.
Entretanto, foi durante o período do General Licínio Crasso, por volta de 71 a. C. que ela foi aplicada sem piedade em seis mil escravos, que se rebelaram numa insurreição sangrenta sob o comando de Espártaco, igualmente imolado na ocasião.
Com a crucificação de Jesus Cristo, sob o governo de Tibério César, a cruz espalhou-se pelo imaginário do cristianismo nascente como símbolo de dor e redenção, até hoje fazendo parte da construção teológica e religiosa dos cristãos. Daí ser comum afirmar que cada um possui a sua cruz para carregar, alguém é uma cruz na vida de outrem e outras citações onde o madeiro é referido como ferramenta de resgate e expiação.
Certamente que nenhuma alma, ora domiciliada na Terra, está isenta de atravessar a noite das grandes provações, pagando pesado testemunho ao mundo por sua fidelidade a alguma causa abraçada.
Este optou pela abnegação em favor do próximo e o mundo o crucifica de vaidoso e ambicioso.
Aquele seguiu a trilha do afastamento das viciações comuns da vida material, e de imediato o círculo dos vassalos das paixões e dos arrastamentos infelizes o lança no madeiro da esquisitice e da negação da carne.
Mas cada um sabe exatamente a cruz que carrega, nem sempre tendo consciência de suas origens na esteira dos renascimentos perturbadores do pretérito imperfeito.
O suicídio de ontem, gerando a trave da alienação mental de agora.
O traidor de muitas vidas, que regressa ao corpo assinalado por cruzes em forma de teratologias limitadoras.
Muitos outros que, não obstante o carro orgânico em aparente ordem fisiológica, são portadores das ocultas cruzes da consciência de culpa, a lhes expungir os delitos não justiçados em experiências anteriores.
Somos todos almas em regime de resgate e aperfeiçoamento, atravessando a noite escura dos testemunhos, a buscar a alforria de nossos grilhões emocionais e mentais. Imperioso que nos libertemos das algemas que ainda nos atam aos deslizes cometidos em tempos vencidos e na vilegiatura atual, buscando o compasso da vida ética, regida pela nobreza de caráter e pelo exercício da solidariedade.
Quando a mensagem de Jesus é autorizada a penetrar uma alma, esta se ilumina interiormente e começa seu processo de descrucificação, renovando a compreensão em relação aos espinhos da vida.
Dificuldades se tornam alavancas de estímulo. Adversários são benfeitores.
Limitações são freios a novos disparates.
E a cruz se converte em asas de libertação, proporcionando a antevisão das regiões felizes onde se deseja situar o próprio coração.
Peregrino das estradas do mundo, em tempos de crise e amarguras, como a dos dias hodiernos, não temas tuas provas nem te entregues ao desespero.
Fita o Sublime Crucificado em teus momentos de oração, renova teu entendimento acerca da vida e prossegue, otimista e fiel, até a completa libertação.
Exemplifica para ti mesmo o que Jesus já fez em teu mundo íntimo, toma tua cruz e sobe teu Gólgota, nem sempre percebido pelos demais.
Eles virão mais tarde.
Teu chamado é para hoje.
O alto te credenciou para seres carta do Evangelho, lecionando ao portadores das cruzes invisíveis como triunfar sobre imperfeições e pequenez moral, avançando nas trilhas do mundo para a eterna ressurreição.
Marta
Juazeiro, 28.12.2021