
Muito se discute a respeito da transformação da Terra, nesse período denominado de transição planetária. Se estruturam partidários da mudança abrupta, advinda de um asteroide que, se chocando com o solo ou caindo nos mares, impusesse a destruição parcial da raça humana, e a porção de sobreviventes edificaria uma nova era.
Outros, tomados por fervor religioso, aguardam a segunda vinda de Jesus ao solo triste do mundo, arrebatando em espetáculo grandioso as ovelhas imaculadas para Seu reino de amor, e os bodes seriam deixados à mercê do inimigo.
Outros mais esperam que um revolucionário tome de armas, insufle as massas em desgoverno e deponha os tiranos, estabelecendo para todos o socialismo perfeito.
Não se dão conta, todos esses observadores apressados, que a vida segue seu curso, dispensando opiniões e posturas fanáticas. As mudanças vão se dando de maneira paulatina, conforme o entendimento das criaturas sobre si mesmas e em decorrência de novas releituras das ideologias vigentes, que vão se diluindo à medida que outras brotam das mentes e dos livros.
Não há um só dia de estagnação. As águas que ontem passaram debaixo da ponte nunca mais voltarão a passar novamente por ela.
Lideranças políticas, arbitrárias ou não, todos os dias, demandam o cemitério, retornando ao grande lar para a prestação de contas diante da própria consciência, tanto quanto os dirigidos, que seguem igualmente o mesmo cortejo para aferição da conduta perante a vida. E nessa movimentação de peças no tabuleiro, a vida coloca em jogo novos atores, ensejando renovação e crescimento em múltiplas áreas da vivência e da convivência.
Onde as grandes civilizações do século XIX? Hoje, diluídas em outras que surgiram e igualmente serão tragadas em futuro próximo.
O túmulo, insaciável devorador de corpos, fez sucumbir e reduziu ao pó tiranos e déspotas, reis e papas, operários e intelectuais, refazendo a cultura e a política diretora dos povos.
Cada período da história tem suas características próprias. Cada tempo exibe suas peculiaridades.
Para muitos observadores, estamos numa fase de profunda decadência moral, onde por toda parte se observa a luxúria, a violência generalizada, o terrorismo, a indiferença pelo outro. Seria um sinal de que atingimos o ápice de uma era e forçosamente penetraremos num novo ciclo de evolução, buscando refazer caminhos e resgatar valores perdidos ou sabotados.
Somente os assalariados pelas sombras e empreiteiros das trevas pugnam pelo caos, aguardando que o planeta se converta numa fornalha de crimes e selvageria, onde seus princípios ideológicos, centrados no medo e na agressividade, triunfariam entre as nações, estabelecendo um califado de horror.
A grande maioria, porém, anseia por uma sociedade justa e igualitária, harmônica e fraterna, onde possamos dar expansão à gentileza e à amizade, estruturando uma sociedade menos competitiva.
Ainda persiste o maniqueísmo milenar, onde Arimã se ergue como a força do mal e Ahura-Mazda se lhe opõe com o todo bem. Do combate entre ambas nasce o caos e deste advém uma nova ordem mundial, assim acreditavam os persas, de onde brotou o Masdeísmo.
Constrangido a se posicionar, pensa no coletivo.
Obrigado a se definir, recorda Jesus.
Forçado a se revelar, expõe com nobreza teus ideais de libertação das algemas da ignorância, que ainda grassa, avassaladora, sobre muitos.
Quando tenhas de optar, prefere o último lugar, cedendo a fila a alguém mais carente ou vulnerável.
Porfia por uma sociedade melhor, ofertando teu exemplo em meio a tanta decadência moral.
Observando os que gritam, xingam, hostilizam, prefere a companhia da mansuetude e refugia-te na prece refazente.
Em meio a tantos antenados com ideologias arbitrárias e intolerantes, sê o conciliador e o ponto de equilíbrio entre extremos.
Onde teu verbo não ajude, silencia. Onde teu silêncio possa ser interpretado como conivência ou anuência ao mal, discorre sobre a fé e semeia a esperança entre aflitos e desesperados.
Torna-te carta viva da Boa Nova.
Faze-te caixa de ressonância do novo tempo.
E se os néscios, infiéis e revoltosos se voltarem contra ti, ergue teu olhar para o alto e confia. Jesus vela por Suas ovelhas, as protegendo dos lobos rapaces.
Em teus ombros o Cristo confiará o rumo de muitos, igualmente sedentos de um novo tempo, feito na argamassa do trabalho com Ele, por Ele e para Ele.
Marta
Juazeiro, 30.12.2021