Será sempre nas fontes das próprias experiências que o Espírito beberá o doce néctar de suas conquistas ou experimentará o amargo elixir de seus fracassos.
Herdeiro direto de multifárias vivências, transitará do instinto para a razão e desta para a intuição, edificando a própria história com o cimento de seus atos.
Quando no estágio da consciência desperta opta livremente por ceder aos apetites inferiores, de momento frui a ilusória alegria de locupletar-se no campo dos desejos satisfeitos, tentando ignorar que o ato insano e a conduta equivocada alteraram rotas alheias, igualmente promovendo na própria marcha resultados indesejáveis. Ao colher os resultados da inquietação e da consciência de culpa, tenta evadir-se da compulsória correção, imposta por leis soberanas.
A consciência ultrajada exige corrigenda. A vítima se faz algoz impiedoso. Projetos acalentados sofrem atraso na sua execução. A dor e o sofrimento surgem por instrumentos de renovação e aprimoramento.
Sob o aguilhão da restauração indispensável, o autor do gesto ou da manobra infeliz se vê constrangido ao resgate da própria falta, iluminando-se a caminho das regiões felizes.
Em percebendo que a má semeadura enseja colheita de dificuldades, o inquilino do casulo orgânico vai despertando os centros psíquicos da vida moral, se ajustando à dinâmica do amor e da fraternidade.
Aprende que quem doa, multiplica.
Quem divide amor, agrega esperança aos tesouros íntimos.
Trabalho no bem atrai parceria preciosa.
Estudo dedicado dissipa a ignorância e liberta o ser dos vagidos da ilusão.
E igualmente o investimento das energias nas ações deletérias possui seus efeitos na esteira do tempo.
Embaraços na ascese. Consciência de culpa reclamando iluminação para dissolver a pequenez moral.
Aumento dos antagonistas ao progresso que lhe é próprio. Distanciamento de afetos e entes queridos, guindados a planos superiores, enquanto o calceta patina no lodaçal da incúria e da viciação de livre adesão.
A saudade dos amores o corrói por dentro. A falta de quietude nas províncias da consciência o aturde. As pelejas enfrentadas e os resultados pífios obtidos geram frustrações crescentes, desanimadoras.
Chega um instante dourado onde o ser dilui parte de sua cegueira espiritual, se permitindo enxergar a longa estrada percorrida e o quanto está à sua frente.
O passado clama por corrigenda.
O futuro acena com paz interior.
O pretérito exibe manchas, nódoas que são reflexos das ações ignóbeis. O amanhã instiga o ser ao investimento intenso no resgate, pacificando as labaredas que consomem o joio imprestável.
Espírito algum fugirá das próprias escolhas. Alma alguma atravessará os caminhos terrestres sem experimentar o efeito das próprias ações.
E quando as atitudes começam a refletir uma firme decisão de acertar, o pensamento deixa de ser egóico, a amorosidade começa a ser um princípio ético e comportamental, a ventura, como sopro de vitalidade e renovação, vai imprimindo nova paisagem nas almas exaustas de tanto errar.
Paixões se tornam emoções superiores.
Grilhões se desfazem, dando lugar a asas libertadoras.
O instinto altera-se, fixando no ser a prevalência dos sentimentos.
O outro deixa de ser usado, triturado, esmagado, tornando-se parceiro de caminhada comum.
O tirano se faz servo de todos.
Inegável reconhecer que quando a mensagem do Cristo se aninha, lúcida e bem compreendida, na intimidade do ser, nova criatura ela se torna.
Já não se compraz no mal.
Em todo lugar e circunstância, enxerga oportunidade de servir.
Adapta-se com facilidade a qualquer ambiente inóspito, saneando com esforço e boa vontade a atmosfera insalubre.
Serve sem a preocupação da retribuição de qualquer espécie.
Acolhe críticas como estímulo.
Recebe elogios sem matricular-se na escola da vaidade.
Se sabe ainda pequeno, mas não atira pedras nos gigantes. Reconhece as próprias limitações, mas prossegue alegre e cheio de bom ânimo na oficina do aperfeiçoamento sem fim.
Seu modelo e guia é Jesus.
Admira e respeita no mundo aqueles que estão lutando contra os arrastamentos perniciosos, mas não lhes tributa qualidades que estes não possuem nem elege tronos de fantasias para bajulação perniciosa.
Dá a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Torna-se um operário dedicado na construção da nova era, a começar de si mesmo.
E quando sob imposição da morte, abandona o cenário do mundo, simplesmente recolhe a ferramenta gasta na gleba sensível e retoma o caminho de casa, ofertando seus frutos ao Senhor da vinha.
Onde estiverem, serão sempre reconhecidos como discípulos D'Ele, por muito amarem.
Marta
Juazeiro, 31.10.2022
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